Paracuru Cia. de Dança
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+ | As montagens coreográficas do grupo retratam momentos do cotidiano da comunidade (a vida dos pescadores, as brincadeiras de infância, a herança indígena da região), fortalecendo, dessa forma, aspectos das identidades culturais cearenses. | ||
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+ | Há aproximadamente oito anos, quando Flávio dirigia o Colégio de Dança do Ceará e passava os fins de semana em Paracuru, sua cidade natal, alguns jovens da cidade foram procurá-lo para montar um grupo de dança. O entusiasmo foi imediato. No entanto, o que os meninos queriam mesmo era que Flávio pagasse um professor de forró. | ||
+ | O bailarino tentou conscientizar o grupo de que, apesar de o forró ser uma dança interessante, não era uma técnica formadora, como o balé clássico, que trabalha a postura, os deslocamentos, os giros, cada movimento em sua particularidade. Mesmo assim, durante oito meses ele pagou as aulas de forró do grupo sem interferir, pois nem mesmo tinha proximidade com o professor. | ||
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+ | Flávio conta que um dia levou alunos do Colégio de Dança para se apresentarem em Paracuru e perguntou se os meninos que faziam aulas de forró não teriam alguma coreografia para apresentar junto aos alunos do colégio. Eles aceitaram o desafio. O momento de interação despertou nos garotos de Paracuru o interesse pela maneira de dançar dos alunos do Colégio de Dança. Dessa forma, ele conseguiu fazer com que os meninos aprendessem a primeira técnica, a dança de rua, levando a Paracuru um professor todo fim-de-semana. Depois da dança de rua, os jovens passaram um ano tendo aulas de jazz. Somente dois anos depois do contato com os alunos do Colégio de Dança, o grupo de Paracuru passou a ter aulas de balé clássico. | ||
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+ | O grupo de jovens que queria aprender forró cresceu e virou a Companhia de | ||
+ | Dança de Paracuru, que passou a apresentar-se na praça da cidade, virou noticia em jornais e na televisão e conquistou o respeito dos moradores da comunidade. | ||
+ | Surgiu, então, a Escola de Dança de Paracuru, que atualmente possui 195 alunos e é a segunda escola de dança com o maior número de meninos (quase metade dos alunos, fato incomum em qualquer escola de dança brasileira) no país, só perdendo para a Escola do Teatro Bolshoi de Joinville. | ||
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+ | Não foi uma tarefa fácil. Como um bailarino conseguiria chegar a uma comunidade de pescadores, mesmo sendo em sua cidade natal, e convencer os pais das crianças, a maioria com mentalidade considerada “machista”, conservadora por tradição, a permitirem que seus filhos tivessem aulas de balé? Foi preciso, naquele momento inicial, uma dedicação extra da parte de Flávio Sampaio para dialogar com os pais e deixar evidente a seriedade da proposta, sua responsabilidade e preocupação para com a educação artística daqueles jovens. Com essa etapa de resistência e dúvidas dos pais vencida, as aulas iniciaram-se à base de recursos financeiros advindos da aposentadoria do idealizador do projeto. | ||
+ | Atualmente, a escola e a Cia de Dança recebem apoio financeiro da Petrobras, através do Fundo da Infância e Adolescência (FIA), e da Prefeitura Municipal de Paracuru. Recentemente, o grupo celebrou conquistas especiais. Em 2006, o espetáculo Outros Mares foi contemplado com o Prêmio Funarte - Petrobras de Circulação Nacional. A mostra é composta pelos balés Folgança, 12`37``, vencedor do II Edital das Artes do Estado do Ceará, e Por um fio, que recebeu do Ministério da Cultura o Prêmio Klaus Vianna de Dança do mesmo ano. | ||
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+ | Para a concepção do espetáculo, Flávio reuniu três importantes nomes da dança contemporânea: Adriano Araújo, ex-aluno do Colégio de Dança do Ceará; Ivaldo Mendonça, pernambucano e ex-bailarino da Cia de Dança Deborah Colker; e Henrique Rodovalho, coreógrafo goiano da Quasar Cia de Dança. Outros Mares traduz, para a linguagem corporal, a interação corpo versus linguagem versus ambiente. Trata-se de um retrato construído através da dança, com elementos do cotidiano dos moradores de Paracuru. Bailarinos se transmutam em ondas do mar, em crianças que brincam na beira da praia e até em carregadores de latas d’água. | ||
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+ | [[Arquivo:Paracuru Cia de Dança-Folgança2.jpg]] | ||
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+ | Imagem do balé Folgança. | ||
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+ | Sampaio considera Folgança o primeiro balé da companhia. A coreografia relata as brincadeiras antigas de crianças e jovens, quando brincar de roda e jogar bola na rua fazia parte do cotidiano. Ele acredita na necessidade de formação de um corpo híbrido para o bailarino, sem que haja, portanto, apenas uma linha de formação dos bailarinos da escola e da companhia. Por isso, os jovens têm aulas de várias técnicas, mas a base está nas aulas de balé clássico. | ||
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+ | Apesar do pouco tempo de existência, a Companhia de Dança de Paracuru já se apresentou em várias cidades cearenses (Fortaleza, Sobral, Itapipoca, Trairi, Limoeiro do Norte, Juazeiro do Norte, Crato, Aracati e Icapuí) e de outros estados nordestinos, como Natal, Macau e Mossoró (RN), Maceió, Arapiraca (AL), Campina Grande e João | ||
+ | Pessoa (PB). | ||
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+ | Os jovens que bateram à porta de Flávio, anos atrás, hoje são dançarinos profissionais da Companhia de Dança de Paracuru e professores dos novos alunos. Recebem R$ 200 por mês. Desde janeiro de 2008, esse dinheiro tem saído da aposentadoria de Flávio Sampaio. “Nós perdemos a renovação do patrocínio por falhas na entrega do projeto. Eu não podia deixar os monitores sem salário. Um deles vai ser pai, logo.” Enquanto a renovação não sai, Sampaio mantém toda a estrutura por conta própria, assim como no início de tudo, quase dez anos atrás. |
Edição atual tal como 19h50min de 8 de janeiro de 2012
Criada em 2000 e dirigida pelo bailarino Flávio Sampaio, a Paracuru Cia. de Dança leva à comunidade ações artísticas e culturais que divulgam a dança, preparam futuras gerações para sua prática, constroem um pensamento crítico. Entre a formação dos bailarinos, a capacitação em diversas técnicas, como: danças de salão, danças de rua, jazz, dança moderna e balé clássico.
As montagens coreográficas do grupo retratam momentos do cotidiano da comunidade (a vida dos pescadores, as brincadeiras de infância, a herança indígena da região), fortalecendo, dessa forma, aspectos das identidades culturais cearenses.
Há aproximadamente oito anos, quando Flávio dirigia o Colégio de Dança do Ceará e passava os fins de semana em Paracuru, sua cidade natal, alguns jovens da cidade foram procurá-lo para montar um grupo de dança. O entusiasmo foi imediato. No entanto, o que os meninos queriam mesmo era que Flávio pagasse um professor de forró. O bailarino tentou conscientizar o grupo de que, apesar de o forró ser uma dança interessante, não era uma técnica formadora, como o balé clássico, que trabalha a postura, os deslocamentos, os giros, cada movimento em sua particularidade. Mesmo assim, durante oito meses ele pagou as aulas de forró do grupo sem interferir, pois nem mesmo tinha proximidade com o professor.
Flávio conta que um dia levou alunos do Colégio de Dança para se apresentarem em Paracuru e perguntou se os meninos que faziam aulas de forró não teriam alguma coreografia para apresentar junto aos alunos do colégio. Eles aceitaram o desafio. O momento de interação despertou nos garotos de Paracuru o interesse pela maneira de dançar dos alunos do Colégio de Dança. Dessa forma, ele conseguiu fazer com que os meninos aprendessem a primeira técnica, a dança de rua, levando a Paracuru um professor todo fim-de-semana. Depois da dança de rua, os jovens passaram um ano tendo aulas de jazz. Somente dois anos depois do contato com os alunos do Colégio de Dança, o grupo de Paracuru passou a ter aulas de balé clássico.
O grupo de jovens que queria aprender forró cresceu e virou a Companhia de Dança de Paracuru, que passou a apresentar-se na praça da cidade, virou noticia em jornais e na televisão e conquistou o respeito dos moradores da comunidade. Surgiu, então, a Escola de Dança de Paracuru, que atualmente possui 195 alunos e é a segunda escola de dança com o maior número de meninos (quase metade dos alunos, fato incomum em qualquer escola de dança brasileira) no país, só perdendo para a Escola do Teatro Bolshoi de Joinville.
Não foi uma tarefa fácil. Como um bailarino conseguiria chegar a uma comunidade de pescadores, mesmo sendo em sua cidade natal, e convencer os pais das crianças, a maioria com mentalidade considerada “machista”, conservadora por tradição, a permitirem que seus filhos tivessem aulas de balé? Foi preciso, naquele momento inicial, uma dedicação extra da parte de Flávio Sampaio para dialogar com os pais e deixar evidente a seriedade da proposta, sua responsabilidade e preocupação para com a educação artística daqueles jovens. Com essa etapa de resistência e dúvidas dos pais vencida, as aulas iniciaram-se à base de recursos financeiros advindos da aposentadoria do idealizador do projeto. Atualmente, a escola e a Cia de Dança recebem apoio financeiro da Petrobras, através do Fundo da Infância e Adolescência (FIA), e da Prefeitura Municipal de Paracuru. Recentemente, o grupo celebrou conquistas especiais. Em 2006, o espetáculo Outros Mares foi contemplado com o Prêmio Funarte - Petrobras de Circulação Nacional. A mostra é composta pelos balés Folgança, 12`37``, vencedor do II Edital das Artes do Estado do Ceará, e Por um fio, que recebeu do Ministério da Cultura o Prêmio Klaus Vianna de Dança do mesmo ano.
Para a concepção do espetáculo, Flávio reuniu três importantes nomes da dança contemporânea: Adriano Araújo, ex-aluno do Colégio de Dança do Ceará; Ivaldo Mendonça, pernambucano e ex-bailarino da Cia de Dança Deborah Colker; e Henrique Rodovalho, coreógrafo goiano da Quasar Cia de Dança. Outros Mares traduz, para a linguagem corporal, a interação corpo versus linguagem versus ambiente. Trata-se de um retrato construído através da dança, com elementos do cotidiano dos moradores de Paracuru. Bailarinos se transmutam em ondas do mar, em crianças que brincam na beira da praia e até em carregadores de latas d’água.
Imagem do balé Folgança.
Sampaio considera Folgança o primeiro balé da companhia. A coreografia relata as brincadeiras antigas de crianças e jovens, quando brincar de roda e jogar bola na rua fazia parte do cotidiano. Ele acredita na necessidade de formação de um corpo híbrido para o bailarino, sem que haja, portanto, apenas uma linha de formação dos bailarinos da escola e da companhia. Por isso, os jovens têm aulas de várias técnicas, mas a base está nas aulas de balé clássico.
Apesar do pouco tempo de existência, a Companhia de Dança de Paracuru já se apresentou em várias cidades cearenses (Fortaleza, Sobral, Itapipoca, Trairi, Limoeiro do Norte, Juazeiro do Norte, Crato, Aracati e Icapuí) e de outros estados nordestinos, como Natal, Macau e Mossoró (RN), Maceió, Arapiraca (AL), Campina Grande e João Pessoa (PB).
Os jovens que bateram à porta de Flávio, anos atrás, hoje são dançarinos profissionais da Companhia de Dança de Paracuru e professores dos novos alunos. Recebem R$ 200 por mês. Desde janeiro de 2008, esse dinheiro tem saído da aposentadoria de Flávio Sampaio. “Nós perdemos a renovação do patrocínio por falhas na entrega do projeto. Eu não podia deixar os monitores sem salário. Um deles vai ser pai, logo.” Enquanto a renovação não sai, Sampaio mantém toda a estrutura por conta própria, assim como no início de tudo, quase dez anos atrás.