Kazuo Ohno
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Kazuo Ohno (em japonês 大野 一雄, Hakodate, 27 de outubro de 1906 - Yokohama, 1 de junho de 2010) bailarino e o coreógrafo japonês conhecido por sua notoriedade na dança Butô.
"A minha dança é a reza para a vida. O que me faz dançar é o sofrimento que eu carrego dentro do meu coração. A vida e a morte são inseparáveis, estão juntas dentro de mim enquanto eu danço, a vida é a reza, a fé e a dança é também a mesma coisa .” (Kazuo Ohno)
Imagem:kazuo2.jpg
Performance La Argentina Sho - Foto: Emilio Luisi in “Kazuo Ohno” (Cosac Naify, 2003)
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Vida
Nasceu em Hakodate em 1906, filho de um pescador e uma cozinheira especializada na culinária européia. No colegial foi morar em Akita com parentes e, nesse período, demostrava apitidão para o atletismo. Graduou-se no Japan Athletic College em 1926. Durante a graduação, um colega o levou ao Teatro Imperial para assistir o espetáculo da espanhola Antonia Mercé y Luque (1890-1936) conhecida como "La Argentina". Ele o assistiu do lugar mais distante e mais alto da platéia, porém se sentia muito próximo à bailarina, esta experiência o marcou profundamente por toda a vida.
Em 1928 volta ao Japan Athletic College e tem aulas de danças sociais e tradicionais dinamarquesas e aulas de expressão com Rudolf Bock. Em 1933 começou a estudar dança com os pioneiros da Dança Moderna japonesa, Baku Ishii e Takaya Eguchi, havia estudado com Mary Wigman na Alemanha. Essa experiência o possibilitou ensinar dança na Soshin Girls School, uma escola cristã.
Em 1938, nasce seu segundo filho Yoshito Ohno, que foi seu parceiro de palco por grande parte de sua vida. Neste mesmo ano, foi convocado para o exército japonês, lutou na China e na Nova Guiné por 9 anos, começou como tenente e passou a coronel. Foi capturado e preso pelos australianos como prisioneiro de guerra.
Após a guerra, voltou a dançar. Em 1949 fez estréia nos palcos no Concerto de Dança Moderna nº I, no Kanda Kyoritsu Hall, em Tóquio. Em 1950, apresentou o recital Jellyfish Dance (Dança da Medusa) inspirado nos horrores que vira na guerra, "medusas" matavam os homens a bordo e os enterravam.
Ainda em 1950, Kazuo Ohno conheceu Hijikata Tatsumi e juntos começaram a desenvolver uma nova forma de movimentação, da qual chamaram de Ankoku Butoh. Em 1976, Kazuo Ohno se deparou com um quadro abstrato do artista Natsuyuki Nakanishi, que o fez relembrar-se de La Argentina e sentiu uma emoção forte como se a própria estivesse pedindo para que ele a dançasse. Aos 71 anos apresenta seu primeiro solo, coreografado por Hijikata Tatsumi, La Argentina Sho(Admiring La Argentina, Admirando La Argentina) baseado no espetáculo que tanto o marcou na juventude. Dividido em cinco quadros Nascimento e Morte, Dor Cotidiana, Casamento do Céu e da Terra, Tangos e Final e Agradecimento, a trilha contava com variadas músicas como Bach, Puccini, tangos argentinos, a voz de Maria Callas e ainda uma gravação do som das castanholas de La Argentina. E foi esta obra que deu ao butô o reconhecimento mundial a partir de 1980 quando Kazuo Ohno foi convidado para o 14º Festival Internacional de Nancy, na França, e, a partir de então fez turnê na Alemanha, França, Inglaterra e Suécia.
Ainda com a direção de Hijikata criou outras duas importantes obras My Mother (Minha Mãe) e Dead Sea (Mar Morto), interpretadas com seu filho Yoshito Ohno.
Seus outros trabalhos foram Water Lilies (Flor de Lótus), Ka Cho Fu Getsu (Flowers-Birds-Wind-Moon, Flores Pássaros Vento Lua)- uma expressão antiga para uma vida em harmonia com a natureza- e The Road in Heaven (A Estrada no Céu), The Road in Earth (A Estrada em Terra).
Sendo um grande representante da dança Butô, fez turnê pela América do Sul, do Norte, Ásia, Europa e Austrália. Sua última apresentação no exterior foi aos 93 anos, Requiem for the 20th Century (Requiém Para o Século 20) realizada em Nova York.
Em 1999, teve um problema na visão que afetou também sua força física, porém ele continuou a dançar. Quando ele não podia dançar sozinho, dançou se apoiando, e quando não podia se apoiar, dançava sentado. No momento em que suas pernas não se moviam como gostaria, dançou com as mãos.
Em 1º de junho de 2010 foi internado em Yokohama, cercado pela família e pessoas próximas, Kazuo Ohno morreu às 16:38h aos 103 anos.
No Brasil
Kazuo Ohno esteve no Brasil três vezes. A primeira em 1986, dançou Admirando La Argentina e Mar Morto no Teatro SESC Anchieta, em São Paulo convidado por Antunes Filho, até então, poucos artistas brasileiros conheciam a dança-teatro Butô e o próprio Kazuo Ohno. Depois apresentou Admirando La Argentina em Brasília e Rio de Janeiro.
"Kazuo Ohno [...] e sua maravilhosa dança butô jamais serão esquecidos pelo público que superlotou o Teatro SESC Anchieta no fim de semana, e que na estréia deu ao senhor Ohno a mais emocionada ovação que já presenciei dentro de um teatro"
Rui Fontana Lopes, Jornal da Tarde
"Inesquecivel aventura com Kazuo Ohno", Jornal da Tarde, 7.4.1986.
Esteve novamente no Brasil seis anos depois apresentando Ka Cho Fu Getsu (Flowers-Birds-Wind-Moon, Flores Pássaros Vento Lua) em Belo Horizonte. Em Londrina e Santo André apresentou, nessas cidades, além de Ka Cho Fu Gestu, também Suiren (Ninféias).
Sua última turnê no Brasil foi aos 91 anos, em 1997, dançando novamente no palco do Teatro SESC Anchieta, em São Paulo, na Temporada SESC de Outono, apresentou Tendoh Chidoh (Caminho no Céu, Caminho na Terra) e Surien, em Santo André com Tendoh Chidon e em Santos com Surien. Apresentou também uma parte de La Argentina e improvisações para o evento Babel em um posto de gasolina, que algum tempo depois viria a ser o SESC Pinheiros.
Características
A dança de Kazuo Ohno se diferenciava a de Hijikata Tatsumi pelo olhar, Hijikata utilizava os olhar e a expressão das máscaras O-beshimi, o que chama-se beshimi kata. Kazuo Ohno buscava o olhar estático, como de um morto, olhos que não veem mas sabem olhar através do corpo.
A maquiagem no butô tem a função de neutralizar o gênero sexual. Kazuo Ohno se vestiu com roupas femininas diversas vezes e acreditava que ao dispor da condição de homem e se vestir como mulher seria a forma de realizar o encontro dos corpos.
As grandes inspirações para sua dança eram a origem da vida, vida e morte (se e shi), a relação entre mãe e filho e, assim, sua própria mãe e seus ancestrais. Acreditava em uma conexão forte entre esses elementos que o motivavam a dançar, e motivam também todo o universo, pois desde o nascimento há um conflito entre vida e morte. E se dança a vida e a morte, não cabe a dançar apenas com a forma é necessário dançar com a alma.
Referências
Bibliografia
BAIOCCHI, Maura. Butoh: Dança veredas d'alma. [S.l.]: Palas Athena, 1995. 132 p. ISBN 85-7242-011-8.
BOGÉA, Inês; LUISI, Emidio (Fotog.). Kazuo Ohno. São Paulo - SP: Cosac & Naify, 2002. 144 p., il. ISBN 85-7503-
157-0.
GREINER, Christine. Butô: Pensamento em evolução. Ilustrações de Rachel Zuanon. São Paulo - SP: Escrituras Editora Ltda, 1998. 136 p., il., 22 x 22 cm. ISBN 85-86303-32-1.
E-book
GREINER, Christine. O colapso do corpo a partir do ankoku butô de Hijikata Tatsumi - disponível no dia 10/04/2013 em: http://www.japonartesescenicas.org/estudiosjaponeses/articulos/ankokubutoh.pdf
GREINER, Christine. A diáspora do corpo em crise: do teatro japonês aos novos processos de comunicação do ator contemporâneo - disponível no dia 10/04/2013 em: http://www.revistasalapreta.com.br/index.php/salapreta/article/view/102/100
TIBÚRCIO, Larissa Kelly. Visibilidades Espaço-Temporais do Corpo na Dança Butô - disponível no dia 10/04/2013 em: http://www.portalabrace.org/vcongresso/textos/dancacorpo/Larissa%20Kelly%20de%20O%20M%20Tiburcio%20-%20VISIBILIDADES%20ESPACO-TEMPORAIS%20DO%20CORPO%20NA%20DANCA%20BUTO.pdf
CALDEIRA, Solange. BUTOH: A DANÇA DA ESCURIDÃO - disponível no dia 10/04/2013 em: http://www.mimus.com.br/solange2.pdf
Sites
http://en.wikipedia.org/wiki/Butoh
http://en.wikipedia.org/wiki/Kazuo_Ohno
http://www.emiliesugai.com.br/escritos/admirando-kazuo-ohno.html
http://www.kazuoohnodancestudio.com/english/kazuo/