Rainer Vianna
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Edição de 21h05min de 25 de julho de 2011
Rainer Vianna
Rainer nasceu em 24 de janeiro de 1958, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Filho de dois grandes nomes da dança contemporânea brasileira, Angel vianna e Klauss Vianna, recebeu o legado dessa arte e fez também história em sua trajetória de vida. Morreu jovem, aos 37 anos de idade, vítima de um afogamento na praia de São Conrado, em 1995. Mas ainda assim, desenvolveu uma frutífera vida artística, trabalhando com cinema, teatro e dança. Foi também responsável pela sistematização da Técnica Klauss Vianna, registrada por Rainer em 1990, dois anos antes da morte de seu pai e mestre Klauss.
Para narrar a trajetória desse artista é imprescindível entender o contexto afetivo e familiar em que foi criado. Rainer acompanhou o desenvolvimento profissional de seus pais ainda bebê, quando Angel e Klauss foram convidados para trabalhar na Bahia. Rainer foi criado por sua avó paterna até os 12 anos de idade, mas ainda bem jovem frequentava ensaios e aulas de balé e expressão corporal dada por seus pais, segundo relata Angel em depoimento dado ao Acervo Klauss Vianna. Começou a fazer aula com Angel aos quinze anos e no ano seguinte passou a frequentar também as aulas de seu pai. O seu legado, portanto, dentro do desenvolvimento da dança no Brasil, está conectado com esse ambiente de pensamento sobre o corpo, de um corpo que se expressa, ou ainda da dança espontânea como coloca no argumento da ficha técnica de “Reflexões Poéticas de uma mão desesperada”.
Seu primeiro trabalho foi uma ponta no filme “Estranho Triângulo” (1970), de Pedro Camargo, com 12 anos. Atuou ainda no filme “Feminino Plural”, de Vera de Figueiredo (1976/77) e como preparador corporal no filme “Ele, o boto”, de Walter Lima Jr, (1987). Em seu trabalho no teatro, destacam-se as peças “As quatro patas do poder”, de Clovis Levi (1978), em que assinou a coreografia; “Teu nome é mulher”, de Marcel Mithois (1979), onde orientou o trabalho de expressão corporal, e "O palhaço imaginador", peça infantil dirigido por Rainer, que lhe rendeu os prêmios Moliére e S.N.T., (1976).
Na área de dança, suas contribuições foram inúmeras. Foi idealizador do projeto "Encontros de Dança" (1977/78), junto com Graciela Figueroa, Michel Robin, Regina Vaz, entre outros, que tinha por objetivo reunir o que estava sendo produzido em dança no Brasil e fortalecer uma classe ainda inaugural de dança contemporânea. Em 1980 participou do III Ciclo de Dança Contemporânea, no teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, com o solo “Reflexões Poéticas de uma mão desesperada”, coreografada por Klauss.
Entre os anos de 1975 e 1980, foi professor de dança contemporânea do Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação, escola fundada por Klauss, Angel e Theresa D’Aquino, primeira investida da família na construção de um espaço de formação e criação artística em dança. Rainer começou como professor ainda aos 17 anos. Em 1983, seguindo os passos dos pais, cria uma escola ao lado da sua então esposa, Neide Neves, o Centro de Dança Livre de Botafogo – RJ. Durante essa temporada, Rainer coreografa e dirige "Movimento Cinco - Mulher", com Neide Neves e participação de Angel. Em 1988, Rainer se muda para São Paulo com sua esposa Neide e sua filha bebê, Tainá.
Em 1992, Rainer funda a Escola Klauss Vianna, em São Paulo, ao lado de Neide Neves e Klauss. A Escola tem por objetivo formar profissionais em dança, com ênfase na Técnica Klauss Vianna, fruto de quarenta anos de trabalho e anotações de Klauss. Por conta da morte acidental e inesperada de Rainer a escola é fechada em 1995, mas deixa seus frutos para coreógrafos e bailarinos que passaram por ali e puderam apreender essa técnica genuinamente brasileira. Jussara Miller, uma das principais seguidoras, relata em seu Livro A escuta do Corpo:
“...em contato com a Técnica Klauss Vianna, o aluno torna-se um pesquisador do corpo, não um reprodutor de movimentos, mas um criador, um estudioso, um dançarino, um ser humano em autoconhecimento, e tudo isto se reúne em um único núcleo: o corpo-a-corpo com o próprio corpo.” (MILLER, 2007, pág. 16)
A morte de Rainer foi impactante para a cena que se constituía em torno desse novo fazer artístico da dança e também por não ter sido entendida ou explicada. Angel soube da notícia da morte de Rainer no dia da estreia de sua nova formação do grupo Teatro do Movimento, reformulado em 1994, com Alexandre Franco, Maria Alice Pope e Paulo Caldas, depois de pedir a sua prima que incansavelmente o procurasse, pois já havia sumido há 2 dias. Para sua mãe Angel, com duas perdas seguidas, seu companheiro em 92 e seu filho em 95, sua vida é também uma prova da resistência de um ideal. A manutenção do nome e da obra dessa família se dá graças a essa militante da liberdade do corpo. Para o episódio de sua morte, vale citar um trecho da crônica “O mergulho do Príncipe Bailarino”, de Caio Fernando Abreu, em “Pequenas Epifanias”:
“... o que aconteceu depois ninguém sabe direito. No dia seguinte, o corpo dele foi encontrado morto na areia da praia. Parece triste. Mas eu, que o conhecia, fiquei desconfiado que Iemanjá e Netuno adoraram a sua ideia e imediatamente chamaram um bando de ondinas - as ninfas que moram nas ondas - para começar as aulas. Só havia um problemas: para as aulas, tinham que ficar com ele em tempo integral. Devem ter perguntado se queria mesmo ficar. Acho que ele disse sim. E ficou. Quer dizer, a parte dele que dançava separou-se do corpo e ficou por lá, no fundo do mar, coreografando as ondas.” (ABREU, 2006, pág. 182)
- Referências Bibliográficas
- ABREU, Caio fernando. Pequenas Epifanias. Rio de Janeiro: Agir, 2006.
ISBN: 85-220-0712-8
- MILLER, Jussara. A escuta do corpo: sistematização da Técnica Klauss Vianna. São Paulo, Summus, 2007.
ISBN: 97-885-323-0345-5
- Referências Externas
