Teatro Xirê
De Wikidanca
Xirê é uma palavra na língua yorubá que corresponde ao nome que se dá à festa onde filhos e filhas-de-santo cantam e dançam para todos os orixás. O Teatro Xirê é uma companhia de dança-teatro que se propõe à pesquisa da construção cênica através do movimento, suas primeiras produções resultaram em espetáculos de dança-teatro criados para crianças. A companhia é pioneira na produção de dança contemporânea destinada a este público específico no estado do Rio de Janeiro, onde reside desde sua criação em 2003. Uma das principais motivações da companhia é a comunicabilidade com o público tendo como mídia o corpo do ator-bailarino em ação. O grupo busca trabalhar a partir de temas que considera urgentes desenvolver e é desta forma que entende sua atuação política e social.
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História, Projetos e Premiações
Sem um elenco fixo de profissionais, sem suporte estrutural ou financeiro, a saída foi ir somando pacientemente as descobertas até o “Ciranda” chegar ao formato que tem hoje. Não tinha muita consciência, mas a linguagem da qual o Xirê se utiliza hoje ao criar para crianças, estava sendo cuidadosamente articulada. Só pude me dar conta do fato quando comecei a criar o segundo espetáculo do grupo. (Andrea Elias)
A companhia foi criada como conseqüência das pesquisas da atriz, bailarina e educadora Andrea Elias, hoje sua diretora artística. Tendo realizado a primeira apresentação pública do espetáculo “Ciranda” em 1998 na cidade de Angra dos Reis, onde começou sua carreira como atriz, nascia a partir daí um processo de investigação em torno da construção cênica pelo movimento que aglutinaria profissionais para a formação da companhia em 2003. A formação da diretora, acadêmica inclusive, nas áreas de dança, teatro e circo, fez com que o grupo localizasse sua pesquisa neste hibridismo de linguagens.
“Ciranda: dança-teatro para crianças” marcou a criação da companhia e, à época de sua estréia, se apresentava como proposta inédita e pioneira no estado do Rio de Janeiro, onde o espetáculo esteve em cartaz, além de ter participado de diversos festivais, no Brasil e no exterior. Uma das preocupações do Teatro Xirê tem sido a garantia de acesso à sua produção por parte dos mais diferenciados públicos.
Assim, o espetáculo “Ciranda” foi apresentado em locais como: Centro Cultural do Banco do Brasil (2003); 4º Circuito Carioca de Dança (2003), como única atração para o público infantil; Teatro do Jockey (2003 e 2004); Teatro do SESI (2004); Teatro Cacilda Becker (2004/2010); Centro Cultural Câmara Torres (Angra dos Reis, 2004 e 2005); unidades do SESC no Rio de Janeiro, pela Mostra SESC-CBTIJ, em 2005 e 2006; 8º Festival de Teatro Infantil de Blumenau (2004); 12º Festival Nacional de Teatro Isnard Azevedo (Florianópolis/2004); Festival Nacional de Teatro de Lajes (SC/2005); projeto “Ciranda de Espetáculos”, circulação por escolas da rede municipal, em 2004 e 2006; Festival de Dança de Araraquara (SP/2006); entre outros espaços.
A intensa circulação do espetáculo e o diálogo profícuo entre dança, teatro, circo e educação, possibilitaram a auto-sustentação da companhia já nos seus primeiros anos de existência.
Em 2006, dando continuidade à pesquisa, deu-se início a criação do segundo espetáculo “Quando Crescer, Eu Quero Ser...”. Para a criação deste espetáculo o Teatro Xirê promoveu o encontro de linguagens também nas parcerias, contando com os diretores Sérgio Machado e Paulo Marques, com este último a parceria permanece até hoje. Neste espetáculo, a companhia pôde lançar mão da experiência adquirida com o público infantil nas mais diferentes situações e aprofundar a pesquisa de linguagem, utilizando procedimentos dos quais se apropriou ao longo dos anos ao produzir dança contemporânea para crianças.
No ano de 2007 o Teatro Xirê começou a firmar parcerias fora do Brasil, primeiramente com o Centro de Produção Teatral Via Rosse, na Itália, onde participou do Encontro Pedagógico Internacional e apresentou o espetáculo “Quando Crescer, Eu Quero Ser...”. A viagem foi contemplada pelo Edital de Intercâmbio e Difusão Cultural do MinC.
Ainda em 2007 o Teatro Xirê foi contemplado pelo patrocínio da Caixa Cultural, realizando apresentações dos dois espetáculos nas unidades de São Paulo (2007), Brasília e Salvador (2008). Integrando também a programação da Mostra SESC Cariri de Cultura e da FITA (Festa Internacional de Teatro de Angra), ambos em 2007.
Para a criação deste espetáculo o Teatro Xirê foi duplamente premiado: na suplência do Prêmio Funarte Klauss Vianna de Dança, com patrocínio da Petrobras, e no Prêmio Angélica Daher de Fomento ao Teatro, com patrocínio da Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, ambos em 2006. O “Quando Crescer...” circulou ainda, no ano de 2008, pela cidade de Araraquara (SESC) e pelo Festival Palco Giratório (SESC Prainha/Florianópolis).
As participações da companhia na programação infantil dos festivais de teatro (uma vez que os espaços para dança contemporânea para crianças nos festivais de dança são bastante recentes) foi sempre motivo de discussão entre os críticos presentes e o grupo e contribuiu com a afirmação de uma construção dramatúrgica, que opera por procedimentos diferenciados da dramaturgia clássica e que tem no corpo sua base.
Como consequência da comunicação iniciada em 2006, a companhia, finalmente, confirma sua participação no International Children’s Festival for Performing Arts, em Nova Deli, Índia, o que possibilitou também as apresentações no Theater Rötslooffell, na Alemanha. No final de 2008 o grupo viaja, então, com as duas produções, mais uma vez com o apoio do Ministério da Cultura através do Edital de Intercâmbio e Difusão Cultural.
Também neste período é premiado pelo edital de fomento à dança da [[Secretaria
Estadual de Cultura do Rio de Janeiro]] para a pesquisa “Cuidado”, direcionada ao público adulto, que resultou na performance “Esther Williams não quer mais nadar”, fruto da parceria com os diretores Paulo Marques e Norberto Presta, contemplado para montagem pelo FATE 2010, e na motivação para a montagem de “Entrelace”.
Ainda em 2008 o Teatro Xirê recebe mais uma vez o patrocínio da Caixa Cultural, desta vez para a realização de seus espetáculos na unidade do Rio de Janeiro, em 2009. Em março de 2009 o grupo estréia, na cidade onde reside e produz, seu novo espetáculo, depois de dois anos circulando com ele pelo Brasil e pelo mundo.
Em 2009 o grupo realiza ainda turnê na Argentina e recebe aceite para a comunicação da diretora Andrea Elias no International Association of Theater Critics durante o Holland Festival, em Amsterdam, o artigo colocava em questão o lugar da crítica num tempo de dissolução das fronteiras entre as linguagens. Ainda em 2009 o grupo participa da Mostra de Linguagens Artísticas para Crianças, promovida pelo SESC Pompéia (SP).
Em 2010 participa com “Quando Crescer, Eu Quero Ser...” do PAZZ Internationales Performing Arts Festival, em Oldenburg, Alemanha, da ocupação do Teatro Cacilda Becker com o projeto “O Corpo entre a Dança e o Teatro” e a diretora Andrea Elias é contemplada pela Bolsa Funarte de Residências Artísticas em Artes Cênicas.
Ainda em 2010 a companhia é contemplada pela Caixa Cultural BA para estréia de seu novo espetáculo “Entrelace” - Outubro 2011. De 2003 a 2011, a companhia manteve residência artística no Centro Cultural Municipal José Bonifácio, no bairro da Gamboa, zona portuária do Rio de Janeiro. A partir de maio de 2011 passou a residir suas atividades no Casarão da Rua Almirante Alexandrino, 501, em Santa Teresa.
A Pesquisa de Linguagem
Não desejava que o público lesse a mensagem no meu corpo, desejava que o público compartilhasse comigo uma vivência.(Andrea Elias)
Ao criar para crianças o Teatro Xirê busca transitar questões centrais da linguagem da dança contemporânea em direção a recepção pelo público infanto-juvenil. Tal procedimento envolve investigação meticulosa do que é próprio da linguagem na relação com o público que se tem como alvo.
Atentando para a capacidade de abstração pertinente a cada idade, ao criar seus espetáculos, a companhia busca fazer a ponte entre o olhar da criança e as questões próprias à linguagem da dança contemporânea, que, muitas vezes, obedece radicalmente ao princípio de não remeter a coisa alguma senão à própria dança (Merce Cunningham).
Na construção dos espetáculos do Teatro Xirê, não é o entendimento estritamente racional que está em jogo, e sim a motivação de um pensamento que envolve o corpo e, por vezes, principia nele. Esta linha tênue entre a comunicação com o público formado por crianças e jovens e as questões peculiares da dança contemporânea tem sido o desafio propulsor da pesquisa da companhia.
No início do percurso de constituição de linguagem, a companhia partiu de roteiros narrativos concretos para estabelecer esta ponte entre o público infanto-juvenil e a dança contemporânea. Contudo, tais roteiros sempre foram utilizados como deflagradores da criação, no foco da investigação o que está em jogo é a comunicação cinestésica como princípio básico de construção dramatúrgica, em detrimento mesmo da leitura linear da narrativa motivadora da criação da obra.
Nesta trajetória de pesquisa, a companhia revela uma forma peculiar de tratar a dança contemporânea para o público infanto-juvenil que prioriza as questões inerentes à linguagem da dança sem prescindir da qualidade de comunicação com o público.
Ao longo desses nove anos, a pesquisa tem permitido o primeiro acesso a espetáculos de dança contemporânea por crianças e jovens no Brasil e no exterior. Neste sentido, a atuação continuada da companhia tem exercido um importante papel na democratização da dança contemporânea, uma vez que amplia os canais de acesso entre esta e o jovem público em formação.
Espetáculos
- Ciranda
Um espetáculo de dança-teatro para o público infantil, cuja temática refere-se ao prazer do encontro da criança com seus desafios pessoais, não compreende um enredo narrativo-descritivo ou mesmo diálogos usuais entre os personagens. Inicialmente, em cena, apenas um baú que, como uma cartola de mágico, transforma ilusão em realidade. Antes de acordar, a menina Telé encontra sua amiga Lulu e as duas crianças começam a despertar para o dia e para as possibilidades de descoberta durante suas brincadeiras.
A pesquisa surgiu da necessidade de redescobrir a boa música para criança ouvir. A seleção musical foi apontando para um tempo onde a brincadeira era uma etapa fundamental no desenvolvimento, pois envolvia os corpos dinamicamente e, com eles, suas emoções. Desejamos despertar o interesse para o jogo, para a vivência do ganho e da perda, de lançar-se e recolher-se, e para o envolvimento com a vida numa dimensão mais ampla que a explicação racional para a mesma. Falar sobre isso para crianças de uma maneira prazerosa significa acreditar na sua inteligência e na responsabilidade que têm para com o mundo que as espera.
FICHA TÉCNICA: Direção e concepção: Andrea Elias | Elenco: Andrea Elias e Luísa Pitta | Pesquisa: Andrea Elias e Jefferson Barbosa | Direção de movimento e mestre de balé: Paulo Marques | Iluminação: Djalma Amaral | Operação de luz e som e assistência de palco: Andressa Leite | Cenário e Figurino: Joana Lavallé e Gabriela Bardy.
- Quando Crescer, Eu Quero Ser...
Um espetáculo de dança-teatro para crianças que faz uma crítica divertida e, em conseqüência, um alerta para os caminhos que costumamos traçar em busca de nossas idealizações. Jujuba de Morango – a personagem clown bailarina - está em busca de sua realização: tornar-se uma primeira bailarina. Para isso faz tudo o que entende ser necessário: busca o melhor espaço, carrega consigo todo o aparato necessário e trabalha muito cumprindo exaustivas e intermináveis horas de ensaios, certa de que para alcançar seu objetivo terá que seguir exatamente o mesmo caminho feito pela bailarina que tem como ídolo. O público torna-se cúmplice, e quem sabe torcedor, da personagem em todas as suas pequenas experiências e acompanha com ela o desenvolvimento de seus aprendizados e das angústias que serão reveladas ao longo de sua trajetória.
FICHA TÉCNICA: Produção: Teatro Xirê | Direção Artística e performance: Andrea Elias | Criação: Andrea Elias, Sérgio Machado e Paulo Marques | Direção de Movimento: Paulo Marques | Figurino, cenário e adereços: Joana Lavallé | Trilha Sonora Original: PC Castilho | Desenho de luz: Djalma Amaral | Cenotécnico: Antônio Domingos | Costureira: Villany | Designer da mala e objetos de cena: Rogério Cherem.
- Esther Williams não quer mais nadar
Estréia em 2011
- Entrelace
Estréia em 2011
Referências
ELIAS, Andrea. Fio de Ariadne. Dissertação de Mestrado. UNIRIO: 2008
Site Oficial do Teatro Xirê
Blog da Pesquisa Cuidado
Ver também
Blog da Ocupação O Corpo entre a Dança e o Teatro
Blog de Norberto Presta
Blog Ações Cooperativas
Blog Projeto Atos Urbanos
Blog Diálogos Entre
Blog Grupo de Pesquisa Dramaturgias do Corpo
Site do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro
idança: Entrando na Dança 2011