Expressão corporal

De Wikidanca

Edição feita às 18h23min de 5 de abril de 2011 por Paulagorini (disc<pipe-separator>contribs)
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Expressão Corporal

A Expressão Corporal está associada hoje a diversas práticas corporais, tanto no campo de conhecimento em dança, quanto de comunicação, neste último sob a perspectiva da comunicação não-verbal ou “linguagem corporal”. Por ser uma expressão muito utilizada em nossa atualidade, por ter conquistado as salas de aula dos cursos de graduação em dança e teatro, é preciso traçar um pequeno histórico da inserção desse termo no universo das artes cênicas para que possamos compreender sua definição. Para isso, o texto se baseia nas principais ideias discutidas sobre Expressão Corporal, desenvolvida pelos artistas que iniciaram esse trabalho no Brasil, na década de 60, Angel vianna e Klauss Vianna, e na Argentina, a partir dos anos 50, por Patricia Stokoe. Acredita-se que essas figuras da dança são de significativa importância no desenvolvimento e pensamento sobre a Expressão Corporal no Brasil e no mundo.


Klauss Vianna, considerado o introdutor da Expressão Corporal no Brasil, desenvolveu seu trabalho principalmente na história do teatro brasileiro, com a preparação corporal de atores que passarem a ter consciência das possibilidades de seu corpo como expressão, para além das falas e dos gestos triviais. Na tentativa de elaborar um conceito ou definir uma técnica, Klauss assina um documento datilografado (sem data) com título “Expressão Corporal”, em que é possível ter acesso ao pensamento desenvolvido por ele em relação a este tema específico. Para Klauss, a tomada de consciência de nossas emoções é inseparável das tomadas de consciência corporais, refletindo na imagem de nosso corpo, a imagem de nosso interior.


Klauss, que também era um pesquisador da anatomia humana, alega que o corpo possui reações a estados físicos e psíquicos que estão muito vinculadas a nossa própria musculatura, a maneira como ela se organiza e funciona. Ele começa descrevendo a movimentação corporal que se faz ao se ter medo ou sentir-se ameaçado, em que toda a musculatura se contrai com a finalidade de proteger os órgãos vitais. Assim ele coloca:


“Nosso íntimo está protegido por uma camada de carne quente, elástica, capaz de se adensar,
criando em torno de nossos órgãos vitais uma parede assaz resistente - contrair nossa musculatura 
é a primeira reação defensiva contra qualquer espécie de agressão ou perigo,
seja ele físico ou psíquico.” (VIANNA, pág. 02, s/data)


O desenvolvimento de nosso conhecimento sensível, que começa a ser elaborado e moldado ainda na infância, é fundamental para compreensão de como as tensões musculares se estabelecem em nossos corpos. Além disso, o contato restrito do toque que a educação tradicional rege, provoca um distanciamento ainda maior da consciência mental com a física. O trabalho de expressão corporal é, por isso, uma técnica que visa “reeducar” esse corpo distanciado, fazendo-o consciente de suas potencialidades, de sua sensorialidade de maneira abrangente e de sua expressividade. Por isso talvez, Klauss desenvolve um pensamento sobre o corpo que está ligado ao desenvolvimento dos sentidos físicos e da comunicação não-verbal:

“O processo de expressão corporal na mesma medida em que vai desverbalizando - tornando as
palavras cada vez mais sem sentido, vai ampliando a percepção visual, tátil e motora. O indivíduo
vai aprender a existir em um mundo cada vez mais amplo, mais rico e mais complexo. Basta isto
para alterar consideravelmente o sentido das palavras. Antes as pessoas viviam na convicção de
que o dizível é o mais importante ou é quase tudo. Depois ele percebe que o indizível é maior.”
(idem, pág. 03)


O trabalho corporal proposto por Klauss está diretamente vinculado com a relação física, artística e criativa do corpo, como expressão do homem. Para este autor, os exercícios libertam as pessoas, pois apresentam uma nova forma de trabalho, um trabalho consigo mesmo. É um método que pode trazer de volta o diálogo do corpo com a mente, ajudando na recuperação de tensões físicas e emocionais, inclusive.


Angel, que participou da pesquisa e desenvolvimento técnico sobre a expressão do corpo ao lado de Klauss, foi responsável pela primeira turma desse “método” em 1966, no Rio de Janeiro, na escola de Tatiana Leskova. Para ela, a dita expressão corporal é uma atividade vital cujo objetivo é a conscientização através do corpo. O termo - para Angel já banalizado - fala muito de um movimento interior, uma busca por si próprio. Por ser vital, o encontro do corpo físico com o psíquico ensina a pessoa a se conhecer, se amar e com isso a se relacionar melhor com o outro. Em entrevista cedida ao “Jornal Ipanema” em 1977, Angel explica:

“É a tentativa de encontrar um paralelo que equilibre o eixo corporal e emocional. O encontro dos
dois é a totalidade do corpo e da mente. O eixo emocional tem muita influência no eixo corporal e
vice-versa. Se os dois andarem mais ou menos juntos as coisas se equilibram. Por exemplo: uma má
postura pode acarretar tensões, e tensões acarretam uma má postura.” (VIANNA, 1977)


Na mesma entrevista, Angel conta como a expressão corporal iniciou-se no Brasil, através do trabalho que Klauss começou a fazer com atores. Por ser de formação de dança, seu principal interesse estava no corpo e em seu movimento, por isso aplicou trabalhos de relaxamento e improvisação corporal para trabalhar com atores, criando uma nova linguagem que depois se afirmaria como “expressão corporal”. Depois disso a técnica se estendeu para além do trabalho com atores e atualmente pode ser interpretada e resignificada em diversas linhas de trabalho corporal no mundo todo.


Uma linha de pensamento que também não pode deixar de ser falada, enquanto tentativa de se definir o conceito de expressão corporal, é o trabalho de Patricia Stokoe, em sua escola na Argentina. Para ela a expressão corporal está relacionada com os movimentos mais primitivos do homem, com uma forma de relação com o corpo que está presente desde os primeiros passos considerados dança, na história da humanidade. A expressão corporal nesta concepção é considerada a dança que existe em todas as pessoas e que basta ser estimulada para que aconteça de maneira criativa fazendo de qualquer um, e de todos, artista, intérprete e criador de sua própria dança.


Totalmente vinculada à dança na concepção dessa frente de pensamento, a expressão corporal está presente desde seus primórdios, conforme explicam Gubbay e Kalmar:


“A Expressão Corporal pertence à dança, é uma concepção dentro da dança, é uma atividade
artística com sua própria autonomia, objetivos contidos e métodos de trabalho. Como tal, é a
linguagem do corpo com suas possibilidades de movimento e quietude, seus gestos e trejeitos,
posturas e habilidades organizadas em sequências significativas no tempo e espaço como
manifestação da totalidade da pessoa.” (GUBBAY E KALMAR)1


A escola que Patricia Stokoe fundou parte da premissa do aprendizado de Expressão Corporal como prática de formação em dança, para bailarinos e criadores. É uma atividade artística, que parte dos movimentos cotidianos que o corpo expressa e que servem como base para o desenvolvimento estético posterior. Nessa prática, valoriza-se a sensibilização e tomada de consciência para as possibilidades do corpo, sua investigação e jogo criativo, o corpo como matéria-prima da dança: seus hábitos posturais e suas habilidades de movimento, além da infinidade de relações possíveis de corpo-espaço-energia-tempo. Valoriza-se ainda a atenção sobre o próprio processo e não a competição com os outros. Processo de elaboração pessoal de cada um para que integrem e configurem sua própria linguagem.


Através dessas definições (que são apenas algumas escolhidas num universo de muitas possibilidades) é possível entender porque a “Expressão Corporal” também se conecta com a prática terapêutica. Diversas técnicas de terapia-corporal se valem dessa prática como princípio, como por exemplo a Eutonia, a técnica de Alexander, o Movimento Autêntico. De certa forma, ao se assumir uma linguagem própria do corpo, ativa e criativa, a divisão moderna entre mente e corpo, entre alma e físico, pôde ser ultrapassada e o ser - humano reconectado.



Nota

1 “La Expresión Corporal pertenece a la danza, es una concepción dentro de la danza, es una actividad artística con su propia autonomía, objetivos contenidos y métodos de trabajo. Como tal, es el lenguaje del cuerpo con sus posibilidades de movimiento y quietud, sus gestos y ademanes, posturas y habilidades organizadas en secuencias significativas en el tiempo y en el espacio como manifestación de la totalidad de la persona.”



Referências Bibliográficas

ISBN: 987-00-0504-7



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