Primórdios da dança no Egito

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Tabela de conteúdo

Os Primórdios da Dança no Egito

Deusa Hathor, patrona da dança no Egito
Bes, o deus-anão

Desde tempos mais longínquos a dança fez parte de manifestações na história da humanidade, inicialmente, segundo alguns arqueólogos, como sinal de exuberância física ou tentativa primitiva de comunicação e posteriormente como forma de ritual: para celebrar as forças da natureza, a mudança de estações, em culto aos deuses, em ritos de fertilidade etc.

No Egito, a invenção da dança era atribuída a Bes, um deus-anão que protegia contra a feitiçaria e favorecia um parto rápido. A figura dele, assim como a da deusa Hathor, patrona da dança, são encontradas em papiros e em desenhos dentro de pirâmides relacionadas à palavra hbij, que significa ao mesmo tempo dançar e estar contente. Ambos os deuses derivam de entidades dos primitivos ritos de fertilidade praticados por volta de 5000 a.C.

"A decifração dos hieróglifos nos permitiu conhecer o ritual em honra de Osíris na cidade de Abydos. Os ritos duravam dezoito dias e até hoje sua representação é uma atração turística. A encenação constava de uma cerimônia de aradura e semeadura na qual, sacerdotes, músicos e bailarinos adentravam o templo em solene procissão executando, com danças pantomímicas mascaradas, a morte e a ressurreição da divindade. Enfeitados com fantásticos arranjos de cabeça, davam boas vindas com gritos de alegria à deidade ressuscitada e à semente do solo que brotava." (CAMINADA, 1999)


O Festival de Abydos

Templo de Osíris em Abydos
Ruínas do templo de Abydos (esq.) e relevos do deus Osíris (dir.)

Abydos sediou por mais de dois mil anos o culto aos Mistérios do deus Osíris, primeiro soberano do Egito na mitologia. O Festival acontecia sempre no último mês da inundação do rio Nilo e a partir de seus registros detectou-se os primeiros sinais da dança na civilização egípcia.

Sabe-se que o festivas de Abydos realizava-se de acordo com indicações em hieróglifos, garantindo a repetição de um esquema. O cuidado em repetir o cerimonial levou os egípcios a uma primeira notação gráfica da dança através de hieróglifos.

Dois exemplos são encontrados em fragmentos oriundos de túmulos datando de cerca de 2700 a.C., um para dança da colheita e outro para dança funerária.


Cerimônia de culto ao deus Osíris

Osiris1.gif

A primeira descrição da cerimônia data de 1868 a.C.. Nela a estátua do deus era carregada, em sua barca portátil, nos ombros dos sacerdotes do templo para sua suposta tumba no monte conhecido como Umm el-Qaab. A procissão parecia consistir em duas fases - a primeira, pública e a segunda secreta, para os sacerdotes. O deus, primeiro seguia de seu complexo do templo através de um pequeno portal e seguia através dos cemitérios do lado ocidental do templo. Esta era a seção pública do ritual acessível a todos e onde muitas pessoas dedicavam estelas ao deus para celebrar o festival e para rezar pela continuação da vida após a morte. Após esta primeira etapa, a procissão ia para o deserto, onde os dogmas dos ritos divinos eram realizados.

Quase sempre a entrada de Osíris vinha após a citação do nome de um faraó morto recentemente. Os personagens usavam máscaras e executavam gestos estipulados, acompanhado por cantos e danças.


A festa, hieróglifos e elementos do espetáculo

Dançarina egípcia fazendo a "ponte"
Mulheres egípcias dançando, detalhe da pintura na tumba de Shaykh

Alguns historiadores situam na festa de Abydos o ancestral do teatro. Embora se trate de um culto, a alta dramatização permite que nele se vislumbre elementos de um espetáculo. Os gregos seguiriam via semelhante a partir dos mistérios dionisíacos e a procissão das mênades.

A música no Festival de Abydos caracterizou a relevância da expansão impulsiva e instintiva do homem aliada ao movimento sonoro da natureza. A civilização egípcia praticou o cultivo da música como arte em si mesma, ligada à religião, à política, seus ritos e danças. Estudos de instrumentos encontrados em sítios arqueológicos locais evidenciam o aperfeiçoamento na fatura dos mesmos com valorização em timbres. A música egípicia, com características muito próprias, revela inspiração e finalidade religiosa, e era praticada em diversos momentos da vida social e coletiva. A arte egípcia, através de seus instrumento musicais e papiros com diversas anotações, atingiu outras civilizações antigas, como a cretense, a grega e a romana.

Sistro
Instrumentistas e dançarinos egípcios

Diversos registros fazem acreditar que a dança egípcia era severa, angulosa, com alguns movimentos acrobáticos, como a ponte: pés e mãos no solo sustentam o corpo arqueado.

A participação feminina parecia predominar, pelo menos no que se refere à dança religiosa. Desenhos, altos-relevos e estátuas mostram dançarinas, frequentemente aos pares, sobressaindo entre o grupo de instrumentistas.

O acompanhamento musical era feito por sistro - instrumento de percussão que produz um som achocalhado, geralmente feito de bronze -, flauta e tambor.

As danças foram, inicialmente, confiadas a mulheres, mas, relevos posteriores mostram batedores de palmas marcando o ritmo para um grupo de dançarinos que avança em fila, com os braços para o alto, mãos unidas pelas pontas dos dedos, palmas voltadas para cima ou instrumentistas tocando harpa e uma espécie de flauta enquanto outros parecem estalar os dedos.

Embora originalmente vinculada ao culto, a dança também servia para a diversão da aristocracia. Num papiro de Mênfis um faraó expressa o desejo de ver um anão dançar. E são inúmeras as imagens de dançarinas homenageando os poderosos, desde as primeiras dinastias até o final do domínio dos Ptolomeus, quando o Egito foi conquistado pelos romanos.

A arte egípcia, através de seus instrumento musicais, dança, hieróglifos e papiros com diversas anotações, atingiu diversas outras civilizações antigas, como a cretense, a grega e a romana.


Referências

PORTINARI, Maribel. História da dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

WILKINSON, Philip. Guia Ilustrado Zahar: Mitologia / Philip Wilkinson & Neil Philip; trad. Áurea Akemi; 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,2010.

CAMINADA, Eliana. História da Dança: evolução cultural. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.

BOURCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. Editions du Seuil, 1978.

The Festival of Osiris at Abydos. In: http://www.egypt.net.in/festival-of-osiris/ All about Egypt. © 2013 Copyright Egypt.net.in. Acesso em 29 de abril de 2013.

No antigo Egito, o nascimento do drama. In: http://www.elianacaminada.net/ Acesso em 26 de abril de 2013

A Música na Pré-História e Antigas civilizações In: http://www.passeiweb.com/saiba_mais/arte_cultura/musica/pre_historia_antigas_civilizacoes/ Acesso em 26 de abril de 2013.

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