O tempo, o ritmo e a dança

De Wikidanca

Edição feita às 20h01min de 3 de setembro de 2013 por Mariana Callegario (disc | contribs)
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No texto encontramos abordagens sobre as diferentes formas de definições de tempo sobre a visão científica, a poética e também uma outra forma de se pensar sobre ele, buscando uma ligação com o ritmo dentro da dança e na formação do indivíduo de uma maneira geral.

O Tempo

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Quando perguntaram a santo Agostinho o que era o tempo, respondeu: se não me perguntarem, sei, mas se quiser conceituá-lo, não sei. (Santo Agostinho). Desde muito tempo tentamos explicar e codificar os fatores que nos levam a entender o nosso chamado tempo. Inúmeros teóricos e diversas ciências tentam nos dizer o exato significado dessa palavra, a primeira coisa que nos remete a pensar em tempo, seria a grande explosão que aconteceu no espaço, onde dela se originaria os planetas atuais, o famoso big-bang. Mas será que antes dessa grande explosão não haveria tempo por ali? E todas as outras atividades e transformações que ali existiam não seriam tempo?

Outra maneira que encontraram para nos explicar e provar cada vez mais a presença desse tal tempo foi com a criação das horas, minutos e segundos e os famosos relógios presentes até hoje em nossas vidas. Um aparelho que nos mostra exatamente em que tempo, até um pouco mais, em que instante estamos.

Com isso criamos uma ideia de tempo linear, possuindo início, meio e fim. Uma ideia em que temos um passado, presente e um futuro que seguem nessa ordem exata, sem modificações. Isso me remete a pensar de uma forma diferente. Pensamos em passado, presente e futuro, mas na verdade todos vivemos em um imenso presente, logo que quando pensamos em nosso passado, transferimos ele para nosso presente, pensamento presente, e quando imaginamos nosso futuro estamos também tornando esse pensamento presente, o futuro se torna presente a cada instante. Logo passado, presente e futuro se tornam todos presentes.

Daí todas essas formas científicas de explicar o tempo se tornam muito específicas, certas e sem transformações já a poética torna-se mais existente nessa definição de tempo. A poética rompe essa organização linear de definição sobre o tempo e parte para uma forma vertical de estudo. Ela apresenta três experiências incríveis de se desprender dessa forma codificada de tempo horizontal segundo o texto O instante poético e metafísico, são elas: não referir seu tempo ao tempo dos outros, das coisas e ao tempo da vida. Ao conseguir essa experiência, você estaria encontrando o seu tempo, separadamente do mundo lá fora, seria meio que uma conversa de você para você.

O tempo, o ritmo e a dança

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Ao pensarmos em tempo e ritmo é praticamente impossíveis separar esses dois conteúdos que se interligam em suas possíveis explicações. Podemos pensar em ritmo quando nascemos, temos nossas particularidades e também nossas similaridades. Um exemplo disso seria a nossa respiração, o ritmo e intensidade dessa ação biológica comum dos seres vivos, cada ser possui o seu ritmo respiratório. Ao esculpir o tempo, o ritmo torna-se tempo-em-vida'. Ainda pensando nesse ritmo de vida, pode-se notar a forma de atuação de cada artista, podendo ele seguir o seu ritmo cotidiano, temperamental ou não, fugindo de suas regras naturais.

É indispensável também quando se fala de ritmo, citar os silêncios e pausas que apesar de não serem na maioria das vezes notadas por diversas pessoas, tem papel fundamental para o estudo do tempo e ritmo. As pausas e silêncios não são paradas sem nenhuma explicação e sim uma transição necessária entre uma ação e outra, podendo elas durar um pequeno instante ou se prolongarem por um tempo maior. Elas são necessárias para que o artista pense em sua próxima ação, para que ele se coloque enquanto ser naquele momento e lugar.

Quando nos remetemos a ritmo em dança logo direcionamos nossa ideia à música e estímulos sonoros em geral, mas esquecemos de que o silêncio também pode se tornar som. Com a ausência dessa música o artista não tem certo direcionamento de tempo e nenhuma intenção de movimento através desse estímulo sonoro, nada conduz sua movimentação a não ser o seu ritmo interno. Através disso o artista começa a construir apenas com seus movimentos e sua música interna.

Em suma tudo é tempo, a vida é tempo. O estudo de tempo se torna indispensável na formação dos artistas de uma forma geral e a partir dele, é possível obter um melhor entendimento corporal e rítmico dentro do estudo da dança e da vida. Com isso cabe ao indivíduo escolher seus caminhos e segui-los, sejam eles em direção as descrições específicas e codificadas ou partir para o lado da tentativa poética de explicação desse tal tempo.


Referências

BACHELARD, Gaston. O direito de sonhar. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

BARBA, Eugenio. O ritmo oculto. Correio da Unesco, Rio de Janeiro, v.24, n.3, p.16-19, mar. 1996.

BARBA, Eugenio.; SAVARESE, Nicola. A arte secreta do ator: dicionário de antropologia teatral. São Paulo-Campinas: Hucitec, 1995.

TRAGTENBERG, Livio. Música de cena: dramaturgia sonora. São Paulo: Perspectiva, 2008.

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