Companhia Perdida

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==Sensorimemórias==
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Em 2011, a Companhia iniciou um novo projeto, ''Sensorimemórias''. O objetivo desse novo projeto é o de recriar em dança lembranças sensoriais dos criadores participantes da Companhia. Trata-se de investigar a intricada construção sensorial do corpo a partir de experiências físicas retidas na memória das intérpretes e de basear a criação de um vocabulário de movimentos nessa investigação.
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Peças curtas para desesquecer é o mais recente trabalho da Companhia Perdida. Nesta pesquisa, investiga-se aquilo que a diretora Juliana Moraes nomeou intuitivamente de sensorimemórias: um tipo especial de memória que se dá quando uma experiência sensorialmente forte se impregna na lembrança e só pode ser de fato recobrada se experimentada novamente pelo corpo. Ao invés de criar um espetáculo único, a Companhia Perdida desenvolveu uma série coreográfica composta por 8 peças curtas, de 10 a 20 minutos de duração cada. São 5 solos, um de cada integrante do grupo, além de um dueto, um trio e um quarteto. Ao serem apresentadas em sequência, as peças demonstram unidade de dramaturgia e movimentação, e o espectador pode reconhecer motivos similares que se trançam como num bordado temporal.
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Sensorimemórias constituem uma espécie de rememoração que transita entre sensação, memória e movimento. A partir de alguns experimentos, sobretudo o emprego de objetos no contato com o corpo (inspirados no trabalho de Lygia Clark e desenvolvimentos de Ana Terra), as integrantes da Companhia Perdida buscaram texturas de movimento que, ao mesmo tempo, mobilizam lembranças e são por elas mobilizadas. Trata-se de buscar um repertório de ações originadas em disposições corporais simultâneas ao reavivamento de imagens, episódios e sensações, que são reativados e recriados na e pela ação motora. Peças curtas para desesquecer reivindica que lembranças não são registradas apenas num hipotético e abstrato âmbito mental, mas sobretudo no corpo e no corpo em movimento.
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Como explica Juliana Moraes, “não há nem encenação nem ficção, mas sim a concretude da experiência de relembrar pelo corpo. São movimentos estranhos, desarmônicos, instáveis e ligados ao chão, como se apresentassem um corpo pré-linguagem, que desafia organizações socialmente codificadas. São corpos que insistem em se mover de determinada maneira”. Os exemplos de sensorimemórias que aparecem nos trabalhos são muitos, como a discreta cicatriz feita pela unha de uma galinha no rosto de Érica Tessarolo, a perna trêmula da avó de Isabel Monteiro, o medo de fogo de Carolina Callegaro e seu contínuo recolhimento, as agulhas de soro de hospital na mão de Juliana Moraes e o jeito de dormir quando bebê de Flávia Scheye. Em um dos muitos textos escritos ao longo do processo, Érica explica um pouco da criação: “observo muito, silencio, questiono o por quê de fazer o corpo se lembrar daquilo que ele já fez questão de esquecer, percebo que emoções e sentimentos também podem lesionar, converso com quem acho que tenho que conversar, ouço as pessoas que estão comigo, prefiro não tirar conclusões, espero a experiência decantar, lido com as lembranças boas e as ruins, e também com aquelas que não consigo enxergar muito bem.”
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A organização do material se dá através de roteiros gerais sobre os quais as intérpretes criam no momento presente da cena. Mas não se trata de improvisação no sentido tradicional, e sim de escolhas dentro das memórias corporais desenvolvidas ao longo do processo. Dá-se assim o que Gustavo Sol, preparador de interpretação da companhia, chama de estado investigativo, que dinamiza a relação criativa com tempo e espaço e desafia a previsibilidade.
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A cenografia é assinada pela artista plástica Georgia Kyriakakis. Renomada por seus trabalhos de instalação, esta é a primeira vez que ela se aventura a criar para uma peça de dança. Num espaço todo móvel, tanto as bailarinas quanto o público ficam sobre chão de papelão, com caixas também de papelão que ficam nas laterais do espaço para que os espectadores usem como assentos ou apoios. Georgia acredita que as caixas remetam às memórias guardadas em mudanças, quando todos os objetos que constituem uma casa ficam recolhidos. Ela propõe a integração do público com a cena, algo que já interessava a Companhia Perdida por acreditar que o material corporal deveria ser visto de perto.
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O figurino, criado pela designer de moda Flávia Aranha, dilui as informações tradicionalmente identificadas como roupas de uso cotidiano e de uso cênico. Os tecidos, todos orgânicos, por vezes mostram transparências que revelam a silhueta dos corpos das intérpretes. A confecção apresenta detalhes em sua costura como linhas e contornos delicados; e seu tingimento em chá resultou em uma paleta de tons que conversam diretamente com a cor do papelão e é passível de ser tingida pela luz.
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A iluminação, assinada por Cristina Souto, propicia a cada peça uma identidade própria tanto na paleta de cores quanto no recorte espacial. Além disso, inclui a mobilidade da proposta ao fazer com que as bailarinas, em algumas cenas, iluminem umas às outras. Nove lâmpadas pendem verticalmente do teto e se tornam um objeto cênico cuja altura é regulada pelas intérpretes dependendo da cena.
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A trilha sonora foi composta especialmente por Laércio Resende com sons derivados das vozes das próprias intérpretes e ruídos. A intenção é criar no limiar entre o canto e a fala, e muitas vezes os sons parecem projetar os estados internos dos corpos na cena. Tudo isso entremeado de silêncios, que evidenciam os sons derivados da fricção dos movimentos com o chão de papelão. Vale notar que esta já é a quinta  parceria de Laércio com Juliana Moraes.
==Apoios==
==Apoios==

Edição de 16h29min de 23 de agosto de 2013

Tabela de conteúdo

História

A Companhia Perdida foi idealizada pela bailarina e coreógrafa Juliana Moraes. Já consolidada na criação de solos e duetos, que continua paralelamente, a artista fundou a Companhia com o objetivo de viabilizar um espaço para a pesquisa de poéticas coreográficas em parceria com outros criadores-intérpretes e para a realização de espetáculos em grupo. Atualmente, fazem parte do grupo as criadoras-intérpretes Carolina Callegaro, Isabel Monteiro, Érica Tessarolo e Flávia Scheye. A preparação corporal é feita pelo ator e pesquisador Gustavo Sol.

A Companhia tem avançado na pesquisa do que Juliana Moraes denomina “dramaturgia do in/consciente”. Trata-se de uma dramaturgia que, ao invés de depender do uso de uma narrativa causal como estratégia de condução de peças de dança, aposta em deslocamentos, acumulações, substituições e, sobretudo, repetições de movimentos e imagens como operações estruturantes na criação de espetáculos coreográficos.

Entre 2008 e 2011, a pesquisa dessa poética coreográfica ocupou-se também da investigação do universo visual constituído pelas fotografias da artista americana Francesca Woodman (1958-1981). O objetivo era recriar coreograficamente as imagens fotográficas feitas por Woodman, que serviram de base para a construção de gestos e de movimentos. Esse processo de criação resultou no espetáculo (depois de) Antes da Queda.

Em 2011, a Companhia iniciou um novo projeto, intitulado Sensorimemórias. O objetivo era recriar em dança lembranças sensoriais das criadoras participantes da Companhia. Tratava-se de investigar a intricada construção sensorial do corpo a partir de experiências físicas retidas na memória das intérpretes e de basear a criação de um vocabulário de movimentos e uma dramaturgia nessa investigação.

PEÇAS CURTAS PARA DESESQUECER: uma série coreográfica da Companhia Perdida, foi o resultado dessa pesquisa. Ao invés de criar um espetáculo único, a série é composta por 8 peças curtas, de 10 a 20 minutos de duração cada. São 5 solos, um de cada integrante do grupo, além de um dueto, um trio e um quarteto. Ao serem apresentadas em sequência, as peças demonstram unidade de dramaturgia e movimentação, e o espectador pode reconhecer motivos similares que se trançam como num bordado temporal.

Idealizada tendo em vista a colaboração entre os artistas participantes e a criação coletiva, a Companhia Perdida se destaca pela atenção dispensada a todas as etapas do processo de criação e a todos os elementos de um espetáculo, funcionando como um fórum de debates não apenas para os bailarinos e coreógrafos envolvidos, mas também para os demais artistas e profissionais colaboradores, tais como figurinistas, artistas visuais e pesquisadores. Nesse sentido, ainda é importante destacar que os espetáculos da Companhia sempre contam com trilhas sonoras originais (compostas por músicos como Jonas Tatit e Laércio Resende). A Companhia também oferece oficinas, ateliês coreográficos e workshops de curta ou longa duração ao público interessado. Recentemente, publicou o livro eletrônico Sensorimemórias: um processo de criação da Companhia Perdida.

Cia Perdida

Dramaturgia do In/Consciente

A Companhia tem avançado na pesquisa do que Juliana Moraes denomina “dramaturgia do in/consciente”. Trata-se de uma dramaturgia que, ao invés de depender do uso de uma narrativa causal como estratégia de condução de peças de dança, aposta em deslocamentos, acumulações, substituições e, sobretudo, repetições de movimentos e imagens como operações estruturantes na criação de espetáculos coreográficos.


Nos últimos anos, a pesquisa dessa poética coreográfica ocupou-se também da investigação do universo visual constituído pelas fotografias da americana Francesca Woodman (1958-1981). O objetivo era recriar coreograficamente as imagens fotográficas feitas por Woodman, que serviram de base para a construção de gestos e de movimentos. Esse processo de criação resultou nos espetáculos Antes da Queda (2008) e (depois de)Antes da Queda (2009-2011).

(depois de) Antes da Queda


Senorimemórias

Peças curtas para desesquecer é o mais recente trabalho da Companhia Perdida. Nesta pesquisa, investiga-se aquilo que a diretora Juliana Moraes nomeou intuitivamente de sensorimemórias: um tipo especial de memória que se dá quando uma experiência sensorialmente forte se impregna na lembrança e só pode ser de fato recobrada se experimentada novamente pelo corpo. Ao invés de criar um espetáculo único, a Companhia Perdida desenvolveu uma série coreográfica composta por 8 peças curtas, de 10 a 20 minutos de duração cada. São 5 solos, um de cada integrante do grupo, além de um dueto, um trio e um quarteto. Ao serem apresentadas em sequência, as peças demonstram unidade de dramaturgia e movimentação, e o espectador pode reconhecer motivos similares que se trançam como num bordado temporal.

Sensorimemórias constituem uma espécie de rememoração que transita entre sensação, memória e movimento. A partir de alguns experimentos, sobretudo o emprego de objetos no contato com o corpo (inspirados no trabalho de Lygia Clark e desenvolvimentos de Ana Terra), as integrantes da Companhia Perdida buscaram texturas de movimento que, ao mesmo tempo, mobilizam lembranças e são por elas mobilizadas. Trata-se de buscar um repertório de ações originadas em disposições corporais simultâneas ao reavivamento de imagens, episódios e sensações, que são reativados e recriados na e pela ação motora. Peças curtas para desesquecer reivindica que lembranças não são registradas apenas num hipotético e abstrato âmbito mental, mas sobretudo no corpo e no corpo em movimento.

Como explica Juliana Moraes, “não há nem encenação nem ficção, mas sim a concretude da experiência de relembrar pelo corpo. São movimentos estranhos, desarmônicos, instáveis e ligados ao chão, como se apresentassem um corpo pré-linguagem, que desafia organizações socialmente codificadas. São corpos que insistem em se mover de determinada maneira”. Os exemplos de sensorimemórias que aparecem nos trabalhos são muitos, como a discreta cicatriz feita pela unha de uma galinha no rosto de Érica Tessarolo, a perna trêmula da avó de Isabel Monteiro, o medo de fogo de Carolina Callegaro e seu contínuo recolhimento, as agulhas de soro de hospital na mão de Juliana Moraes e o jeito de dormir quando bebê de Flávia Scheye. Em um dos muitos textos escritos ao longo do processo, Érica explica um pouco da criação: “observo muito, silencio, questiono o por quê de fazer o corpo se lembrar daquilo que ele já fez questão de esquecer, percebo que emoções e sentimentos também podem lesionar, converso com quem acho que tenho que conversar, ouço as pessoas que estão comigo, prefiro não tirar conclusões, espero a experiência decantar, lido com as lembranças boas e as ruins, e também com aquelas que não consigo enxergar muito bem.”

A organização do material se dá através de roteiros gerais sobre os quais as intérpretes criam no momento presente da cena. Mas não se trata de improvisação no sentido tradicional, e sim de escolhas dentro das memórias corporais desenvolvidas ao longo do processo. Dá-se assim o que Gustavo Sol, preparador de interpretação da companhia, chama de estado investigativo, que dinamiza a relação criativa com tempo e espaço e desafia a previsibilidade.

A cenografia é assinada pela artista plástica Georgia Kyriakakis. Renomada por seus trabalhos de instalação, esta é a primeira vez que ela se aventura a criar para uma peça de dança. Num espaço todo móvel, tanto as bailarinas quanto o público ficam sobre chão de papelão, com caixas também de papelão que ficam nas laterais do espaço para que os espectadores usem como assentos ou apoios. Georgia acredita que as caixas remetam às memórias guardadas em mudanças, quando todos os objetos que constituem uma casa ficam recolhidos. Ela propõe a integração do público com a cena, algo que já interessava a Companhia Perdida por acreditar que o material corporal deveria ser visto de perto.

O figurino, criado pela designer de moda Flávia Aranha, dilui as informações tradicionalmente identificadas como roupas de uso cotidiano e de uso cênico. Os tecidos, todos orgânicos, por vezes mostram transparências que revelam a silhueta dos corpos das intérpretes. A confecção apresenta detalhes em sua costura como linhas e contornos delicados; e seu tingimento em chá resultou em uma paleta de tons que conversam diretamente com a cor do papelão e é passível de ser tingida pela luz.

A iluminação, assinada por Cristina Souto, propicia a cada peça uma identidade própria tanto na paleta de cores quanto no recorte espacial. Além disso, inclui a mobilidade da proposta ao fazer com que as bailarinas, em algumas cenas, iluminem umas às outras. Nove lâmpadas pendem verticalmente do teto e se tornam um objeto cênico cuja altura é regulada pelas intérpretes dependendo da cena.

A trilha sonora foi composta especialmente por Laércio Resende com sons derivados das vozes das próprias intérpretes e ruídos. A intenção é criar no limiar entre o canto e a fala, e muitas vezes os sons parecem projetar os estados internos dos corpos na cena. Tudo isso entremeado de silêncios, que evidenciam os sons derivados da fricção dos movimentos com o chão de papelão. Vale notar que esta já é a quinta parceria de Laércio com Juliana Moraes.

Apoios

A Companhia Perdida já foi contemplada três vezes pelos Editais de Fomento à Dança da Prefeitura da Cidade de São Paulo. Em 2008, o apoio permitiu a realização de Antes da Queda, que foi apresentado no Teatro Viga e no Centro Cultural São Paulo, num total de 23 apresentações.


Em 2009, o mesmo tipo de apoio permitiu a realização de (depois de) Antes da Queda. O espetáculo foi apresentado, em 2010, no Centro Cultural São Paulo e nos SESCs de Bauru, São Carlos e Santo André; e, em 2011, no SESC Pinheiros (essa última apresentação contou também com o patrocínio do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo).


Em 2011, a Companhia foi novamente contemplada pelo Edital de Fomento à Dança para iniciar as atividades de seu novo projeto, Sensorimemórias.


(depois de) Antes da Queda


Idealizada tendo em vista a colaboração entre os artistas participantes e a criação coletiva, a Companhia Perdida se destaca pela atenção dispensada a todas as etapas do processo de criação e a todos os elementos de um espetáculo, funcionando como um fórum de debates não apenas para os bailarinos e coreógrafos envolvidos, mas também para os demais artistas e profissionais colaboradores, tais como figurinistas, artistas visuais e pesquisadores. Nesse sentido, ainda é importante destacar que os espetáculos da Companhia sempre contam com trilhas sonoras originais (compostas por Jonas Tatit). A Companhia também oferece oficinas, ateliês coreográficos e workshops de curta ou longa duração ao público interessado.


Fonte

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