Dança e Tecnologia

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Edição de 20h18min de 24 de agosto de 2011

Definir dança e tecnologia não é uma tarefa simples, uma vez que tanto a dança em sua contemporaneidade como a intervenção da tecnologia na produção artística são conceitos ainda muito recentes em termos históricos e, enquanto tais, ainda em construção. Existem, no entanto, diversas maneiras de detectar a relação da tecnologia com a dança, como são os casos da videodança, dança telemática, dança-computador (termo utilizado pela bailarina Analívia Cordeiro para definir uma pesquisa própria). No entanto, são apenas textos que tentam definir processos híbridos através de uma nomenclatura. Formas de classificar para facilitar a compreensão de quem lê ou se interessa sobre o assunto.


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Alguns pesquisadores tratam do tema da tecnologia como mediação, como é o caso de Ivani Santana em seu livro “Dança e Cultura Digital”, outros abordam de forma terminológica e classificatória, como fez Maíra Spanghero em “A dança dos encéfalos acesos”. No entanto, o que é comum àqueles que se arriscam a definir esse formato artístico é a resultante de um processo de contaminação entre tecnologia e arte. Diante dos sucessivos avanços tecnológicos, a facilidade de acesso ao uso de artefatos como câmera de filmar, computador e internet, possibilitou uma fácil utilização dessas ferramentas no processo de composição coreográfica.


Após algumas experiências dessa intervenção, o artefato deixou de ser apenas um meio utilitário e foi apropriado pelo artista como parte de sua obra, seja pela materialidade do artefato (objetos cênicos, estéticos, técnicos), seja pela relação entre as partes de forma simétrica. Ou seja, o próximo passo na intervenção da tecnologia com a dança, passou do uso utilitário para o uso estético. A tecnologia como corpo integrante do processo criativo, onde homem, máquina e objeto são atores da mesma rede que trama o fazer artístico, de maneira simétrica.


Histórico:

Ao entrar em contato com a história da tecnologia como parte da composição em dança, é importante levar em conta que o que nomeamos arte (ou dança) tecnológica são as obras que se utilizam de novas tecnologias, tecnologias digitais. No entanto, muito antes da chegada da cultura digital, já havia intervenção técnica no fazer artístico. Segundo Spanghero, as relações entre dança e tecnologia podem ser datadas a partir do começo da década de 1960, período no qual os primeiros softwares para notação do movimento foram desenvolvidos. Mas de fato a tecnologia digital é capaz de potencializar os efeitos da técnica na arte, mas do que inventar algo que não existia.


"... o que se tem hoje são as novas tecnologias, as tecnologias digitais, que permitem 
outras construções de percepção, diferentes explorações para o movimento e novas organizações   
para o corpo-no-espaço tempo." (SPANGHERO, 2003)


Desde o teatro grego já havia efeitos de iluminação ou mecanismos de palco para intensificar a experiência da obra de arte cênica. Ao se alterar a atmosfera no ambiente do palco permite-se intensificar a imersão do público na peça.


Na história da dança, a cenografia toma lugar de destaque como tecnologia de palco. O uso de iluminação, cenário, figurino, podem modificar a percepção do público em relação ao que está sendo apresentado. E isso muito antes da chegada do computador. Um exemplo encontrado no balé clássico do final do século XVIII é a peça "Le Sylphides", do coreógrafo Charles Didelot. No espetáculo, as sapatilhas de ponta das bailarinas e os mecanismos de suspensão utilizado na cenografia proporcionam um efeito único de leveza e flutuação.


Na dança moderna, destaca-se Loïe Fuller, que fez da iluminação - o grande advento daquela época - um atributo de suas obras. Ao utilizar túnicas como figurinos, que flutuavam pelo espaço no movimento dançado, combinado com os efeitos de iluminação, era produzida a ilusão de que a bailarina podia aparecer e desaparecer do palco. Para Santana, este foi um dos primeiros efeitos estéticos provenientes da relação entre dança e tecnologia. A iluminação se apresenta como parte integrante da composição artística, não apenas como um artefato para clarear o ambiente.


Em 1930, o engenheiro Leon Theremin criou aquilo que pode ser considerada a primeira dança com mediação de tecnologia eletrônica. Theremin criou uma plataforma, "Terpistone", um ambiente interativo que respondia aos movimentos humanos. A plataforma captava os movimentos da bailarina transformando-os em música.


Em meados do século passado, Merce Cunningham, coreógrafo de destaque da dança moderna internacional, um dos pais da videodança, também é precursor da interatividade homem-máquina na dança. Em sua criação "Variations V" (1965) os dançarinos movimentavam-se entre células fotoelétricas que emitiam sinais ao console dos músicos (John Cage e David Tudor), por onde os sons eram gerados.


Em 1992, Wayne McGregor criou uma plataforma virtual em que utiliza os softwares "Life Forms" e "Poser" na criação de suas coreografias. Ele utiliza as imagens concebidas no computador durante o processo criativo, junto com seus bailarinos. Os movimentos digitais e as imagens de vídeo distorcidas, apresentadas a vivo, são o que estimula o grupo de dançarinos a iniciar a composição, utilizando-se da técnica de improvisação.


Esses são alguns exemplos da interação da tecnologia com a criação artística em dança, em diversos períodos históricos, de acordo com a tecnologia de cada tempo. Atalmente podemos encontrar referências em nomes como Xavier Le Roy, Jerome Bell, Tomas Lehmen, Meg Stuart, Willian Forsythe, entre outros.


Ver também:

Referências Bibliográficas:

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