Ao lado da crítica

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Capa do volume 1 do livro “Ao lado da crítica”


Tabela de conteúdo

O livro

Ao lado da crítica é uma publicação em dois volumes da editora FUNARTE, onde Roberto Pereira, grande pesquisador da dança, reúne suas críticas e as de Silvia Soter, publicadas nos jornais cariocas Jornal do Brasil e O Globo, respectivamente, do ano de 1999 a 2009.


Resenha: A História da Dança através da crítica

Pensar numa História da Dança no Brasil é um processo complicado. Primeiramente: Dança NO Brasil ou Dança DO Brasil? De onde vem o movimento aqui dançado? O que diferencia um movimento autenticamente nosso de um que é a reprodução, mesmo organicamente instaurada, de um movimento que vem de fora e que dele nos apropriamos (e que não deixaria de ser brasileiro também!)?


É muito incipiente, se comparado a outros registros historiográficos de artes, o registro da dança em terras brasileiras. Roberto Pereira (2007) desenvolveu um estudo crítico sobre os títulos publicados sobre dança no país, gerando um importante documento que nos auxilia no entendimento desta questão historiográfica da dança no Brasil. A partir de seu estudo é possível delinear uma idéia de como acontece esse registro da dança enquanto memória que vira história e história que vira história da arte, história da dança.


Um fato não abordado por Roberto Pereira nesse estudo é a questão de a crítica artística ser uma importante fonte para a historiografia, ainda que ele próprio tenha sido um grande crítico de dança. Assim como os livros e demais registros sobre História da Dança no Brasil, a crítica é um meio pouco explorado, em termos de quantidade e divulgação/acesso, para o registro da dança enquanto história.


No livro Ao lado da crítica (2009) Roberto Pereira reuniu críticas de dança, suas e de Silvia Soter, do ano de 1999 até 2009, publicadas nos jornais cariocas Jornal do Brasil e O Globo, respectivamente. Com apresentação do ministro da cultura à época do lançamento do livro, Juca Ferreira, a reunião do trabalho dos dois críticos é nitidamente enquadrada como também uma questão histórica e historiográfica. Dois volumes do livro trazem então dez anos de trabalho dos dois únicos críticos de dança publicados em jornais de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro. A dança carioca e a dança aqui dançada, registrada, analisada e historiografada pelo olhar crítico de dois grandes nomes da dança.


Pensar numa história da dança através da crítica, ainda mais de uma dança que está acontecendo hoje é bastante interessante, pois a distância que a temporalidade traz para o registro é infinitamente menor do que os registros críticos da dança do início do século XX, por exemplo, que é quando nós brasileiros começamos a ter uma tradição em dança instaurada. Como é possível observar em A Formação do Balé Brasileiro (PEREIRA, 2003), que se utiliza bastante da crítica de dança no Rio de Janeiro do início do século XX para sua pesquisa, um registro acurado e especializado, mesmo enquanto crítica, é de fundamental importância quando pensamos a dança como um processo histórico totalmente conectado com o tempo e com o seu entorno, que o influencia, inspira e concebe.


A crítica de dança hoje, então, tem o sentido de quebra da obra (PEREIRA, 2009), problematizando-a, inserindo-a num contexto maior, deixando visíveis questões por ela trazidas e nela sentidas. O registro histórico torna-se então ainda mais rico e precioso, pois não só acontece em níveis historiográficos, como está também articulado artística, política e socialmente com a dança que se desenvolve e se registra.


Para Bornheim (1998), a crítica consiste sempre na tomada de certa distância em face dos fenômenos artísticos, com o fito de examinar-lhes a natureza ou algumas de suas implicações, o que, para o registro historiográfico da dança através da crítica, é de suma importância. Documentos que registram e se questionam. Que fazem questionar além da pura manifestação de impressões, gostos e desgostos do relator. Ler crítica da dança hoje se torna um exercício de entendimento de contextos e manifestações que o corpo deixa transparecer e a dança embala. Pensar a crítica se torna não só dizer o que é bom e o que é ruim, mas o que se pensa para que a dança aconteça e o que se pensa quando ela acontece.


Baudelaire (1846) diz que para ter sua razão de ser, a crítica deve ser parcial, apaixonada, feita de um ponto de vista exclusivo, mas que abra novos horizontes. Tal afirmação confirma, de fato, o caráter pessoal que a crítica pode adquirir, mas chama nossa atenção para o fato da “abertura de horizontes”, que deve acontecer para a completude do ato de criticar.


A crítica se faz hoje um instrumento que nos possibilita delinear obras que se constroem e que são registradas das mais diversas formas (SILVA, 2012), mas que sob o olhar do crítico, são inseridas no contexto de seu tempo para o leitor de qualquer tempo. Não só uma análise estética, mas historiográfica se faz com a crítica, possibilitando para quem a lê, como se dá quando abrimos as páginas de Ao lado da crítica (PEREIRA, 2009), o entendimento da obra como fato não isolado no tempo, mas pertencente a um todo (cultural, social, artístico) que influencia e é influenciado por tantos outros todos que o circundam e nele se inserem.


Um maior entendimento da importância da crítica para a dança é um fato que ainda precisa ser entendido pela própria classe da dança, para que seu acontecimento seja legitimado por quem faz dança e assim reconhecido por quem assiste dança e por quem lê a crítica.

Ficha Técnica

ISBN: 978-85-7507-123-6
978-85-7507-125-0
CDD: 792.80981
Edição: 1, 2009
Volumes: 2
Número de páginas: 216 (v.1); 296 (v.2)
Formato: 26 cm.
Editora: FUNARTE


Referências







--Gabriel Lima 20h35min de 5 de junho de 2013 (BRT)

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