As dificuldades de falar sobre História da Dança no Brasil

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Esse texto têm como objetivo mostrar os conceitos relacionados à história e Dança, tendo em consideração as diferentes formas de pensar sobre ambas. A partir disso, problematizar a história da dança no Brasil, atentando para a quebra de paradigmas relacionados a uma história positivista que nos foi contada desde a época de estudos primários, a história dos vencedores. Ao pensar em rompimento com esse pensamento positivista encontra-se o método do historiador Marc Bloch chamado de historiografia do problema, onde é apresentado um valor a participação das atividades humanas e não só políticas, uma colaboração interdisciplinar de se fazer história.

Marc Bloch foge do pensamento histórico linear se contrapondo a ideia de que o tempo passado era um dado rígido, imodificável ou inalterável, o passado era uma estrutura em progresso, segundo ele, deveria ser adotado um “método regressivo” que “faria com que o passado retornasse, porém não de maneira intocada e ‘pura’” (p.7).

Para Bloch (2001) documentos são vestígios, fazendo-nos assim pensar que os papéis talvez não documentassem tudo o que havia se passado naquela época, ou até mesmo de uma forma fantasiosa, inexistente (p.7).

A história é normalmente vista como um processo de ordenação cronológica das coisas e acontecimentos, regidos por uma lógica linear causal, enquanto a dança como a “linguagem do indizível”, produto da subjetividade e cuja efemeridade impede qualquer tipo de abordagem mais precisa. Esse pensamento é a matriz da historiografia da dança, que ainda procede como mera listagem cronológica de autores e obras dispostos em ordem de melhoria progressiva, sugerindo um processo evolutivo por acumulação (BRITTO, 1999, p.37).

Apesar da Dança não estar ligada a esse pensamento de ordenação de acontecimentos e fatos, fomos acostumados a estudar história de uma forma codificada, baseada em nomes, datas e acontecimentos. A história que se tinha registrada se dava por autobiografias e memórias dos próprios bailarinos da época que sentiram a necessidade de preencher esta “lacuna na historiografia das artes” (PEREIRA, 2007). Logo, acredita-se que havia diversas autobiografias, memórias, de diversos bailarinos em diferentes partes do Brasil que por motivos provenientes da época não se difundiam nem ao menos eram reconhecidos.

Acredito que só haja uma precariedade de documentos relacionados à Dança ao nos inserirmos a esse pensamento positivista apresentado em todas as discussões sobre documentos e formas de estudar história apresentados acima, mas, ao pensarmos que a Dança já possuía seus movimentos desde a década de 40, com a escola de Dança na Bahia e posteriormente a instauração da mesma como curso de graduação na universidade (UFBA), imagina-se quantas memórias, fatos, relatos estavam presentes então naquela época. A memória é uma das principais matérias-primas da história(BLOCH, 2001, p.17).

O fato é que não fomos acostumados a nos basear se não em documentos, a partir disso, pesquisadores ainda se baseiam em formas codificadas de escrever sobre história da dança no Brasil, memórias também fazem história e o conceito de Dança é transitório assim como o passado apresentado por Bloch. Não devemos pensar a dança em um tempo cronológico, hierarquizá-la ou tentar encaixá-la em definições. A história é busca, portanto escolha. Seu objetivo não é o passado, seu objetivo é 'o homem', ou melhor 'os homens', e mais precisamente ' homens no tempo(BLOCH, 2001, p.24).

Pensando nesse problema que é estudar história da Dança, considera-se cabível que não se pense em um começo, uma origem. Deixe que a dança, transitória por si só, viaje entre presente e passado, possibilitando assim reflexões que vão além da cronologia e de modelos positivistas de se pensar sobre a história.

Atribuímos que tudo tem um início, meio e fim, logo, o problema não é a escassez de documentos relacionados á Dança e sim a forma de organização irregular que impomos aos fatos.


Referências

ARAÚJO, Lauana Vilaronga Cunha. Vanguardismo, também uma questão da dança: Graal – o segredo da dança na Bahia: a noção de vanguarda artística aplicada à escola de dança da Universidade Federal da Bahia. 1° ed. Salvador – Bahia: Editora P&A, 2005.

BRITTO, Fabiana Dultra. Repertório Teatro e Dança: Uma saída Historiográfica para a dança. Ano 2, n° 2 – 1999.2. Salvador: Universidade Federal da Bahia.

BLOCH, Marc L. B. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Prefácio, Jacques Lagoff; Apresentação à Ed. Brasileira, Lilia Moritz Schnarc. Tradução, André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1990.

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