E por falar em dança... Programa 07 - 08/09/2009
De Wikidanca
Tema do Programa: Gestos cotidianos e dança
A escritora francesa Muriel Barbery em seu livro A elegância do ouriço afirma: “A arte é a vida em outro ritmo”. Desde o século XX a dança vem aproximando de diferentes formas essas duas dimensões: vida e arte. Se a Isadora Duncan carregou de cores expressivas suas alegrias e suas dores, nem sempre a dança estabeleceu um outro ritmo para que a vida se fizesse arte. Já nos anos 60, a artista a americana Yvonne Rainer, construiu a sua dança a partir da crítica à idéia de espetáculo e ao virtuosismo, apoiando-se nos gestos cotidianos, no trabalho de corpos não especializados em dança e na quebra das estruturas hierárquicas da composição coreográfica, fazendo com que arte e vida se confundissem. De lá para cá a dança não parou de misturá-las. A coreógrafa carioca Dani Lima está à frente do projeto Pequeno Inventário de Lugares Comuns, que estréia nesta quinta-feira no Mezanino do Espaço SESC, em Copacabana, uma peça que dá continuidade a sua pesquisa sobre uma poética do cotidiano. No palco, cinco criadores intérpretes dançam entre 122 objetos pessoais e intransferíveis, coadjuvantes de toda a encenação. A grande maioria desses objetos foi trazida de casa ou garimpada em mercados de usados sob a supervisão do artista plástico João Modé. Os artistas investem na construção de movimentos, palavras, sonoridades e imagens que criam um inventário vivo daquilo que passa normalmente desapercebido no correr da vida: a poética do cotidiano. É com Dani Lima que vamos conversar hoje.
Entrevista: Dani Lima
Dani Lima no espetáculo Pequeno Inventário de Todas as Coisas
Silvia Soter:
Hoje eu comecei o programa citando a escritora Muriel Barbery, que diz que a arte é a vida em outro ritmo. Você acha que a arte é sempre a vida em outro ritmo?
Dani Lima:
Essa pergunta é super interessante para esse trabalho que a gente está fazendo porque uma das questões que nortearam o trabalho foi o tempo, a idéia de tempo, o tempo da vida cotidiana, que tempo é esse e como é que a gente traria esse tempo para o tempo da arte, no caso, o tempo do espetáculo, o tempo do movimento, da dança, do palco. Uma das curiosidades que a gente veio percebendo quando a gente começou a trabalhar sobre a idéia de cotidiano é que o cotidiano tem um tempo, em grande medida, irregular, é um tempo movido pelas necessidades, pelos desejos de cada momento, não é um tempo regulado...
Silvia Soter:
Por exemplo, como o tempo da cena.
Dani Lima:
Por exemplo. Ou da coreografia: tantos oitos pra cá, tantos oitos... Você vai reagindo aos estímulos da vida e você não pensa nisso, na verdade. Então uma das coisas nas quais a gente trabalhou é tentar resgatar um pouco desse tempo outro, esse ritmo outro, que é o ritmo dos gestos que a gente não se dá conta. Até porque a gente não se dá conta, a gente não os regula, a gente não tem uma regulação consciente deles muitas vezes.
Silvia Soter:
É a vida que vai levando, né?
Dani Lima:
Exatamente, cada estímulo.
Silvia Soter:
E Dani, como é que se deu o processo de pesquisa e de construção desse trabalho? Parece que foi um processo bastante coletivo, né?, partilhado.
Dani Lima:
Isso, é um trabalho colaborativo mesmo, desde o início.
Silvia Soter:
Quem está em cena? Você está em cena?
Dani Lima:
Eu estou em cena junto com a Laura Samir, Paulo Mantuano, Vivian Muller e Felipe Rocha. São cinco bailarinos e desde o primeiro momento, a idéia do projeto era que esta questão sobre como trazer o cotidiano para o palco, esse universo dos gestos cotidianos, como trazer isso fosse partilhado. Então tem a Paula Barreto e o Lucas Canavarro, que trabalham com vídeo, cinema, o João Modé, que é artista plástico, que já é um antigo colaborador, e mais o Renato Machado na iluminação.
Silvia Soter:
E Dani, com que artistas outros você sente que você está dialogando através dessa peça?
Dani Lima:
De longa data, de 2005 para cá, que eu me encantei com a obra do Christian Boltanski, que é um artista plástico francês, que trabalha bastante em cima das pequenas memórias esquecidas do dia a dia. Então para mim foi muito interessante encontrar o trabalho dele, que fala de memória, ao mesmo tempo de esquecimento, da necessidade do esquecimento, que é isso, né? Na verdade, no cotidiano se a gente tivesse o tempo inteiro tendo uma epifania, uma percepção alterada com tudo, a gente não daria conta.
Silvia Soter:
A gente não viveria.
Dani Lima:
A gente morreria de excesso de estímulos. Então a gente liga o automático e a arte talvez fosse esse lugar onde você tem essa percepção alterada das coisas. E o Boltanski faz isso: ele pega um lugar que a gente esquece e mostra ele de novo.
Silvia Soter:
E valoriza.
Momento Solo
Você já reparou que quando a gente está preocupado a gente coça a cabeça? Pois é. Hoje a gente vai coçar a cabeça de um jeito diferente. Na realidade, a gente vai fazer uma massagem no couro cabeludo com os dez dedos das mãos. Vocês vão colocar as pontas dos dedos sobre a cabeça, bem na raiz dos cabelos e, devagarzinho, com os dez dedos, a gente vai fazer movimentos circulares, deslizando a pele do couro cabeludo sobre os ossos do crânio. Podemos começar na testa bem devagar e levando essa massagem até a nuca. Façam movimentos circulares, suaves e percebam que aos poucos o couro cabeludo fica mais solto, mais vivo, mais relaxado. Experimentem!