Vsevolod Emilevich Meyerhold

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Retrato de Meyerhold por Peter Williams, 1925


Vsevolod Emilevich Meyerhold (28 de janeiro de 1874 - 2 de fevereiro de 1940), nome artístico de Karl Kazimir Theodor Meyerhold, nasceu na cidade russa de Penza. Ator, diretor, pedagogo, pesquisador dos meios expressivos da cena e criador da teoria biomecânica para preparação de atores, foi um dos mais importantes diretores e teóricos do teatro russo da primeira metade do século XX. Sua carreira como diretor começou em 1902 e duraria 37 anos, dirigindo mais de 290 produções. Sua obra descreve um período fértil para história do teatro e influenciou toda uma geração de encenadores.


Tabela de conteúdo

História

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Vsevolod Meyerhold

Em 1895, Meyerhold estudou Direito na Universidade de Moscou, época em que renunciou a sua educação protestante alemã e entrou para a Igreja Ortodoxa Russa, aceitando Vsevolod como seu nome cristão ortodoxo. E também se casou com sua primeira esposa, Olga Munt, com quem teria três filhas. 

Em 1896 deixa o curso de direito e se matricula no curso de atuação do Instituto Dramático-Musical da Filarmônica de Moscou, dirigido por Vladimir Nemirovich-Danchenko. Junto com Stanilavsky, Danchenko recém-fundara o Teatro de Arte de Moscou (TAM), onde Meyerhold formou-se ator, em 1898, e atuou em uma ampla gama de produções, incluindo A Gaivota, de Anton Tchékov.

Já nesta época Meyerhold passou a se incomodar com alguns traços do teatro realista e vislumbrando caminhos diferentes passou a compor sua própria linguagem teatral. Em 1902 deixa o teatro de Stanilawsky e funda seu próprio grupo. 

Em 1905, após ter ouvido falar sobre as experimentações de Meyerhold, Stanislavski convidou-o a continuar o seu trabalho no Estúdio de Teatro, um anexo do Teatro de Arte de Moscou, em Povarskaya. Meyerhold rompe com o realismo e demonstra sua abordagem criativa e única de dirigir pela primeira vez, com versões de The Death of Tintagiles de Maeterlinck e Schluck und Jau de Hauptmann

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Retrato de Meyerhold por Peter Williams, 1925

No ano seguinte a atriz Vera Komissarzhevskaya convida Meyerhold a se tornar diretor de seu teatro em São Petersburgo. Em uma única temporada ele estreou 13 produções, todas evocando acalorado debate e em algumas delas já demonstrava alguns princípios estruturais que havia desenvolvido para uma dramaturgia simbolista: cenários de pouca profundidade (shallow stage), decorações que se assemelham a um mural, movimentos lentos dos atores, gestos e poses com a expressividade de uma escultura, e entonação fria sem emoção. Komissarzhevskaya no entanto, não achou fácil trabalhar com Meyerhold, e em 1907 ela lhe pediu para deixar o teatro. 

De 1908 a 1918, Meyerhold trabalhou em grandes teatros como o Teatro Imperial de São Petersburgo, e em particular, no Teatro Alexandrinsky, onde se dedicou à síntese de tradições clássicas de performance com a realidade teatral moderna. Momento de extraordinária colaboração, Meyerhold combinou seus talentos com pintores notáveis ​​que criaram desenhos marcantes para suas produções. Em paralelo ele empregou vários métodos de estilização para revitalizar formas cênicas que considerava desatualizadas. Meyerhold integrou de Moliere técnicas teatrais em sua produção de Don Juan , e misturou elementos do início do romantismo russo do século 19 em The Storm de Ostrovsky e em Masquerade, de Lermontov. Meyerhold também fez questão de introduzir o polêmico drama contemporâneo no repertório imperial, encenando de Living Corpse de Tolstoi, Hostages of Life de Sollogub e Green Ring de Gippius, entre outros.

Ao mesmo tempo, dirigiu uma série de estúdios de teatro, onde   se esforçou para melhorar os métodos correntes de formação de ator. Ele se concentrou no desenvolvimento de habilidades de estilos teatrais populares, não-realistas, com especial atenção à Commedia dell'arte, ao teatro de feiras, atos circenses e a pantomima. Ele acreditava na capacidade dos atores de obter o controle completo de corpo e voz, e de executar comandos do diretor em um prazo fixado de tempo-ritmo. Dessas investigações, e sob o pseudônimo de Dr. Dapertutto, Meyerhold criou uma série de performances dramáticas e pantomimas em pequenos cabarés artísticos. Em 1913, Meyerhold compilou suas teorias desenvolvidas durante este período de exploração, e as colocou em seu livro O Teatro, como um conceito para um "teatro condicional", que estaria em oposição ao naturalismo teatral.

Além de suas explorações teatrais, ele experimentou com o cinema, dirigindo versões de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde e O homem forte, de Przybyszewski. No Teatro Mariinsky em St. Petersburg, Meyerhold fez uma contribuição notável à opera também, com o desenvolvimento de distintas e novas produções de obras-primas de Gluck, Wagner, Mussorgsky, Stravinsky e outros compositores.

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(Cena de "Le Cocu Magnifique" de Fernand Crommelynck, dirigida por Vsevolod Meyerhold, 1922)

A intelligentsia russa respondeu com entusiasmo às grandes inovações de Meyerhold. No entanto, as autoridades imperiais não estavam tão satisfeitas e exerceram forte pressão, exigindo que Meyerhold a converter-se a um estilo convencional e realista as peças para o Teatro Imperial. Neste contexto, a Revolução de Outubro de 1917 gerou um clima de otimismo, pois colocou em colapso os convencionais estabelecimentos de arte burguesa gerando certa liberdade para experiências culturais ousadas e modernas.

Meyerhold tornou-se um dos ativistas mais entusiastas do novo teatro soviético, chegando a ingressar no Partido Social Democrático (mais tarde, comunista) em 1918. Para marcar o primeiro aniversário da revolução, Meyerhold junto com Mayakovsky encenou Mistério Bufo, de Mayakovsky, pondo em uso toda a sua pesquisa sobre as possibilidades expressivas do espetáculo de massa, da poesia folclórica, da performance tradicional das feiras e dos palhaços de circo. Boicotado pelos atores profissionais, Meyerhold lança mão de estudantes e atores inexperientes, sendo que o próprio Maiakovski se vê na obrigação de interpretar três dos papéis da peça. No entanto, pouco tempo após a primeira produção deles, Meyerhold foi preso e encarcerado pelo Exército Branco anti-bolchevique.

Após a sua libertação pelo Exército Vermelho, Meyerhold mudou-se para Moscou e foi nomeado Chefe do Departamento de Teatro da Narkompros (Comissariado do Povo para a Iluminação), cargo que manteria de 1920 a 1921. Desenvolvendo um programa conhecido como Outubro Teatral - movimento que transformou os teatros em espaços de discussão política e comunhão com os espectadores - ele definiu os objetivos fundamentais do teatro como um serviço para a revolução e para plena revitalização da arte teatral. Meyerhold ferozmente confrontou os princípios do academicismo teatral, alegando que eles eram incapazes de encontrar uma linguagem em comum com a nova realidade. Combinando as crenças do Outubro Teatral com o construtivismo cênico e um estilo de performance retirado do circo, Meyerhold começou a encenar produções com sua nova companhia, a RSFSR, incluindo The Dawn (1920) e a segunda edição de Mistério Bufo (1921). Estas obras não foram apoiadas pelos líderes bolcheviques e foi duramente criticada pela esposa de Lênin, Nadezhda Krupskaya, no principal jornal do partido, Pravda. Como resultado, o teatro foi fechado e Meyerhold foi demitido de seu cargo na Narkompros pelo radicalismo excessivo.

Em 1922, Meyerhold fundou uma companhia experimental com a qual ele iria trabalhar pelos próximos 16 anos. Sob a alcunha do State Experimental Theatrical Studio-GEKTEMAS, ele treinou seus atores em um sistema especial de performance teatral, o núcleo do que ele mesmo já tinha desenvolvido: Biomecânica. Através desta formação, Meyerhold se esforçou para cultivar artistas que poderiam dar precisão geométrica, leveza, agilidade acrobática e atitude atlética a um espetáculo teatral.

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Cena da peça Le révizor de Nikoläi Gogol, dirigida por V. Meyerhold, 1928.

Em 1926, encenou Government Inspector, de Gogol, baseada no estilo trágico-grotesco. Esta produção foi uma das fantasmagorias filosóficas e apocalípticas mais complexas do cenário artístico europeu do século 20, semelhante em estilo às pinturas de Picasso e Dali, à música de Shostakovich e Britten e aos romances de Mann e Kafka.

À medida em que a década se aproximava do fim, Meyerhold continuou seu trabalho, mas sob crescente atenção dos censores. Sobre a montagem de O Percevejo, respondeu às provocações e críticas dos porta-vozes do Kremlin, argumentando que a finalidade maior do espetáculo foi “flagelar os vícios de nossos dias” e que Maiakovski “faz refletir sobre muitos problemas que já pareciam resolvidos”.

A partir de 1930, no entanto, as condições de trabalho tornaram-se quase impossíveis. Sob estrita censura, ele tentou transmitir o espírito trágico em suas produções de forma indireta e disfarçada. Em 1935, ele dirigiu A Dama das Camélias, de Dumas, peça que se tornou uma lenda do teatro russo, dando voz claramente as nítidas divergências de seu tempo.

Após lutar por anos contra ataques velados, Meyerhold foi proclamado formalmente um anti-soviético e acusado de ser incapaz de criar performances politicamente relevantes para o proletariado soviético. Em 1938, seu teatro foi oficialmente fechado e apenas Stanislavski, seu antigo professor, veio em seu auxílio, convidando o diretor a trabalhar com ele em um pequeno teatro de ópera que estava dirigindo no momento. 

Em julho de 1939, Meyerhold foi preso e acusado de atividades políticas anti-governamentais. Brutalmente torturado e forçado a fazer uma confissão, que mais tarde retirou perante o tribunal, foi sentenciado à morte por fuzilamento e executado no dia seguinte, 2 de fevereiro de 1940. Seus trabalhos e escritos foram banidos até 1955, quando foi reabilitado pela Corte Suprema da União Soviética e, postumamente, inocentado das acusações. Sua segunda mulher, a atriz Zinaída Raick, primeira atriz de sua companhia com quem casara em 1922, foi encontrada morta em seu apartamento pouco tempo depois de sua prisão.

“Ao executar Meyerhold, a burocracia comunista desejava liquidar muito mais que o homem, seus sonhos e suas realizações. Não conseguiu. A Biomecânica, desde o seu nascedouro, tem influenciado de forma decisiva o teatro contemporâneo. Suas pesquisas sobre o teatro popular, sobre a arte mambembe, suas buscas por um ator que experimente e vivencie, ao mesmo tempo, consciência crítica e plasticidade corporal, ajudaram a compor as bases de muitos outros movimentos que – ao longo das últimas décadas - vêm se sucedendo, e que até hoje eclodem em todos os quadrantes do planeta”. (Antônio Carlos dos Santos em artigo publicado no Jornal Opção, de Goiânia).


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A Biomecânica

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Meyerhold na seqüência de biomecânica “atirando a flecha” (foto sem referência de autoria). Christian M. Schmocker em 1975.
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"The Theatre of Meyerhold" (O Teatro de Meyerhold), fotografia de Grinberg Alexander, 1920.

Meyerhold desenvolveu a Biomecânica adaptando as ideias produtivistas de Frederick Taylor, a teoria de reflexos condicionados de Ivan Pavlov e os estudos das relações sobre o corpo e as emoções de William James. Esta seria um conjunto de exercícios básicos que ajudam o ator a exercer maior controle sobre o seu corpo em situações dramáticas. A Biomecânica trabalha o vocabulário físico-gestual de modo a assegurar ao ator pleno domínio do que expressa. Mas envereda também pelo estudo das ações físicas com o propósito de decompor cada movimento, possibilitando uma melhor análise dos seus significados e uma leveza e clareza de expressividade.

Para dar consistência aos princípios da Biomecânica, Meyerhold buscou as técnicas de movimento dos atores italianos da época da Commedia dell'arte; e posteriormente inseriu características do teatro Kabuki, configurando assim uma metodologia calcada na moderna tecnologia de então. O criador da Biomecânica assim se manifestava quando se referia aos objetivos da técnica em relação ao ator: “dotá-lo da precisão e da álgebra gestual do teatro de Kabuki, onde cada gesto tenha uma significação convencional definida, resultado de uma tradição de séculos”.

Dentro da biomecânica o cinético e o estático teriam valores semelhantes, tal qual nos teatros populares nipônicos. O corpo do ator é entendido como mais um objeto de cena, portanto sua disposição em relação ao cenário tem importante papel como elemento de comunicação visual. Por essas razões, outros elementos típicos do teatro de Meyerhold, como a iluminação, cenário e figurino estilizados e antinaturalistas são essenciais para o perfeito funcionamento da biomecânica.

O cineasta, ex-aluno e amigo de Meyerhold, Sergei Eisenstein, utilizou a técnica da biomecânica em seus filmes Ivan, o Terrível Parte I e Ivan, o Terrível Parte II.

Os vestígios da biomecânica de Meyerhold foram escondidos por anos até uma fonte original ser encontrada após a abertura de arquivos da antiga União Soviética na década de 1990 e se tornar conhecida. Estes escritos foram referência de pesquisa para muitos, inclusive, Jerzy Grotowski, Peter Brook e The Living Theatre. Nikolai Kustow, o instrutor de Biomecânica no teatro de Meyerhold, manteve uma escola secretamente e transmitiu seus princípios para uma nova geração de atores.


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Edição Brasileira do livro "Do Teatro", de V. Meyerhold, 2011.

Publicação

MEYERHOLD, Vsévolod. Do Teatro. Trad. Diego Moschkovich. São Paulo: Iluminuras, 2011.


Ligação externa

Página em inglês do Meyerhold Center [1] [2] Micro Teatro Terra Marique - Centro Internazionale Studi di Biomeccanica Teatrale [3]


Referências

MEYERHOLD, Vsévolod. Do Teatro. Trad. Diego Moschkovich. São Paulo: Iluminuras, 2011.

VSEVOLOD MEYERHOLD. Disponível em: [4]. Acesso em 29 de abril de 2013.

VSEVOLOD EMILEVITCH MEYERHOLD. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2013. Disponível em:[5]. Acesso em: 23 de abril de 2013.

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