Grupo Teatro do Movimento
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Breve Histórico
O Grupo Teatro do Movimento foi criado por Angel vianna e Klauss Vianna em 1976, no Rio de Janeiro, com o intuito não apenas de divulgar o trabalho realizado no Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação, como também dar continuidade à pesquisa em dança iniciada em Belo Horizonte com o Ballet Klauss Vianna (1959-1962). Essa companhia foi um dos primeiros grupos de pesquisa em dança institucionalizado com subvenção estatal no Rio de Janeiro. A partir de um convite do Departamento de Cultura do Rio de Janeiro, através do programa de circulação de espetáculos Pacote Cultural, o Grupo Teatro do Movimento recebeu subvenção estatal para seus trabalhos. Esse projeto permitiu que o Grupo se apresentasse em várias cidades do Estado, em locais como colégios, praças públicas, manicômios judiários, clubes e penitenciárias. O Grupo Teatro do Movimento também se apresentou nos Encontros de Dança do Rio de Janeiro e no 1º Festival de Dança Contemporânea em Salvador/BA, recebendo o prêmio de melhor coreografia por Domínio Público, em 1977.
O Grupo Teatro do Movimento buscava trabalhar na interface da dança e do teatro, diluindo as fronteiras entres as artes. Pode ser considerado um precursor da dança contemporânea carioca, por compreender a dança como um trabalho processual e não simplesmente uma coreografia formatada a partir de passos pré-determinados. Como processo de criação coreográfica, o Grupo partia da improvisação e da criação individual de seus participantes, “no que Angel chama de bailarino pensante e atuante: aquele que, através do improviso e da criação, diga com o corpo o que tem a transmitir” (POLO In RIBEIRO et al: 2010). O coreógrafo tinha o papel de estimular os bailarinos a criar e, posteriormente, selecionar as melhores cenas, em uma dissolução da velha hierarquia entre esses profissionais. O Grupo Teatro do Movimento também rompia com os padroões estéticos da dança clássica, acolhendo corpos distintos, ao invés do corpo de baile tradicionlamente homogêneo. A proposta era possibilitar a dança de cada um, potencializando a expressão mais singular de cada corpo.
O Grupo Teatro do Movimento foi desfeito no final da década de 1970, início da década de 1980, sendo difícil afirmar com certeza o ano ou a data exata em que foi desfeito. É certo que sem a subvenção da Funarte o Grupo se desestruturou e possivelmente se desfez aos poucos. Sabe-se que Angel Vianna tentou ainda manter o Grupo com suas próprias economias, o que se tornou impraticável depois de algum tempo.
Coreógrafos
Foram convidados para coreografar o Grupo Teatro do Movimento, em diferentes momentos:
Repertório
Domínio Público
O primeiro trabalho desenvolvido pelo Grupo Teatro do Movimento foi a obra Domínio Público (1976), com coreografia de Oscar Arraiz, música de Luciano Bério e direção de Angel vianna, tratava do tema do funcionalismo público. Esse trabalho, através do programa de circulação de espetáculos Pacote Cultural, apresentou-se, no ano de 1976, em várias cidades do Rio de Janeiro.
Corações Futuristas
Pas de Deux1 com coreografia de Lourdes Bastos, música de Egberto Gismonti e direção de Angel vianna, criado em 1976. Essa coreografia fazia parte do Espetáculo Movimento e Forma que foi apresentado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ) por três temporadas no mesmo ano.
Luiza Porto
Coreografia de Lourdes Bastos e direção de Angel vianna, com as músicas de Pixinguinha, João de Barro, Ismael Silva, Francisco Alves, Paulinho da Viola e Tom Jobim. O roteiro era de Klauss Vianna, baseado no poema Desaparecimento de Luísa Porto, de Carlos Drummond de Andrade. Essa coreografia de 1976 também fazia parte do Espetáculo Movimento e Forma que foi apresentado no MAM RJ.
Espetáculo Movimento e Forma
O espetáculo Movimento e Forma foi criado e apresentado no ano 1976 por três temporadas no MAM RJ. A primeira parte do programa era composta pelas coreografias Corações Futuristas (1976) e Luiza Porto (1976). O primeiro bloco do espetáculo encerrava-se com Romeu e Julieta, um pas de deux de dança clássica de Eric Valdo, maitre do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com os bailarinos convidados Eliana Caminada e Aldo Lotufo. Essa última coreografia, entretanto, não fazia parte do repertório do Grupo Teatro do Movimento. Na segunda parte do espetáculo foi apresentada a coreografia Domínio Público.
Na última temporada do espetáculo Movimento e Forma, em dezembro de 1976, houve duas participações especiais: a da bailarina Juliana Carneiro (recém chegada do Mudra, de Maurice Bejart) e a da bailarina e coreógrafa uruguaia Graciela Figueroa. Entretanto, essas participações especiais não faziam parte do repertório do Grupo, mas dialogavam com o Grupo através da linguagem gestual a que se propunham.
Como um todo, o espetáculo Movimento e Forma refletia a necessidade e o desejo de criação de uma nova forma de comunicação em dança. Angel e Klauss Vianna, desde os primeiros passos no Ballet Klauss Vianna, seguiam em busca de uma nova forma de se expressar, com sentido e identidades brasileiros.
Significado e função de uma linguagem gestual e sua conotação no campo da Dança
O Grupo Teatro do Movimento realizou esse Projeto-Pesquisa em 1977-1978, sob direção de Angel e Klauss Vianna, coordenação dos professores Mauro José Sá Rêgo Costa, Suzy Botelho, Cáscia Frade e Miriam Moscowich. Pela primeira vez no Rio de Janeiro, um grupo de dança considerado de vanguarda recebeu uma subvenção para pesquisa pela Funartei e Serviço Nacional de Teatro. Essa pesquisa pretendeu levantar o repertório de gestos, movimentos e atitudes do cotidiano das pessoas (crianças, adolescentes e adultos), tanto dos morros quanto da cidade, em contraponto ao gestual presente nas escolas e academias de dança, investigando de que maneira aquelas pessoas utilizavam as diferentes partes do corpo, tendo em vista os diferentes contextos sócios-culturais.
A pesquisa contava com os integrantes do Grupo, que, como pesquisadores, observavam aulas nas escolas de dança, academias onde se praticava halterofilismo, ginástica, capoeira, ioga, e outros espaços em que a prática dos exercícios corporais era desenvolvida. Além de visitar lugares como morros, favelas, estações de trem, analisando os movimentos nas ruas, nos jogos infantis e nas danças populares. Os pesquisadores faziam relatórios, entrevistas e fotografias, buscando compreender quem trabalhava o corpo nesses lugares e de que maneira, que parte do corpo era mais utilizada e o que ficava em evidência na movimentação dessas pessoas. Para tanto, os integrantes do Grupo Teatro do Movimento recebiam aulas de anatomia, psicologia, comunicação, folclore, balé, dança moderna, música e conscientização corporal – com enfoque no gestual.
Angel Vianna acredita que "esse tipo de pesquisa dá uma visão diferente ao bailarino e acrescenta vivências que vão refletir no seu trabalho”, numa visão dialética entre a dança e o dançarino que compreende que a dança se modifica quando o homem se modifica, percebendo que a dança está dentro de cada um de nós.
Espetáculo Domínio Público
Em 1978 o Grupo se apresentou em São Paulo, no Teatro da Dança, de 01 a 08 de março com o espetáculo Domínio Público composto das seguintes coreografias: Luiza Porto (1976); da coreografia homônima Domínio Público (1976); Eterna (1977), coreografia de Lourdes Bastos com música de Egberto Gismonti; Improviso, coreografia de Graciela Figueroa com música de Joseph Haydn; e Anima, um improviso de Michel Robim.
Mal Ária Ba
Em agosto de 1978 o Grupo estreou Mal Ária Ba 2, com direção de José Possi Neto e composição musical de Guilherme Vaz e Carlos Ziccardi. Mal Ária Ba foi um trabalho teatral dançado, que descrevia o trajeto do homem desde o berço até o leito de morte. Os movimentos partiram de improvisações até as formas definitivas, apoiados na música do compositor Guilherme Vaz e em cenários e figurinos criados coletivamente. O Grupo Teatro do Movimento trabalhou com o gestual cotidiano como linguagem de movimento e remontou quadros que foram apresentados de uma maneira não-linear.
Construção
Construção (1979-1980) foi o último trabalho do Grupo Teatro do Movimento, com coreografia de Angel Vianna, sobre trilha sonora de Egberto Gismonti, que na época havia iniciado uma pesquisa musical de linha nacionalista, a partir dos temas indígenas. Gismonti também trabalhou com o Grupo nessa coreografia de modo a formar um canto-coral. Os bailarinos entravam em cena batendo o pé como uma tribo e cantando uma música. Para Angel Vianna, esse trabalho poderia significar a construção de tudo: da vida, do ser humano, do espaço, da música.
1 Do francês: dança para dois. Normalmente, refere-se a uma coreografia dançada por uma mulher e um homem.
2 Mal Ária Ba é uma interjeição napolitana que traduzido literalmente significa “tocar o barco” ou “a gente vai levando”, mas que usado no contexto em que o Grupo Teatro do Movimento desenvolveu sua proposta melhor significaria “tanto faz” ou “qualquer coisa serve”.
Bailarinos-intérpretes-criadores
Fizeram parte do Grupo, em diferentes momentos, os bailarinos:
- Debby Growald;
- Dolores Fernandes;
- Graciela Figueroa;
- Jean Paul Rajzeman;
- Leonardo Jaime;
- Lúcia Cordeiro;
- Lúcia Correa;
- Luciana Baiocchi;
- Luciana Hugues;
- Maria do Socorro Fonseca;
- Mariana Muniz;
- Mariana Vidal;
- Michel Robim;
- Moema Correa;
- Patrícia Hungria;
- Paulo Contier;
- Paulo Guinot;
- Regina Vaz;
- Roberto Giovanetti;
- Silvia Caminada.
Ver Também
Referências Bibliográficas
ALVARENGA, Arnaldo. Dança moderna e a educação da sensibilidade: Belo Horizonte (1959/1975). Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) - Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, UFMG, Belo Horizonte, 2002.
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FREIRE, Ana Vitória. Angel Vianna: uma biografia da dança contemporânea. Rio de Janeiro: Dublin, 2005.
MAGALHÃES, Marina Campos. Angel Vianna e o Grupo Teatro do Movimento. Pós Graduação em Formação de Preparador Corporal nas Artes Cênicas. Faculdade Angel Vianna, Rio de Janeiro, 2010.
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NEVES, Neide. O movimento como processo evolutivo gerador de comunicação técnica Klauss Vianna. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) - Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004.
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__________________. Inscrito em meu corpo. Dissertação (Mestrado em Teatro). Rio de Janeiro: UNIRIO, 2008.
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